Histórico de actividades 2022-2023
- 20 de outubro. A nova sede do clube
- 20-1 de novembro. A água e a origem do mundo A água fonte de vida
- Vice-Presidente da Câmara Municipal apresenta livro sobre Mulher da Maia
- 27 de janeiro e 3 de fevereiro. Terra da Maia entre os séculos X e XII: da construção do território à organização dos poderes
- 10 de fevereiro. A Terra da Maia: aproximações à evolução da geoadministrativa do território
- 24 de fevereiro e 3 de março. A Maia: apontamentos de geografia histórica e contemporânea
- 8 de Março. Dia mundial da mulher
- 7 de Abril. Comarca da Maia
- 22 a 29 de abril. Em torno do Foral da Maia
- 5 de maio. Aspetos particulares da Maia
- 12 de maio. O namoro à carreira
- 26 e 27 de maio. Mogadouro – Terra dos Templários; tradições e valores Patrimoniais.Miranda do Douro - Património
- 17 de junho. O Mosteiro de Moreira e os 400 anos da sua Igreja
- 10 de julho. Maia Hoje - Feriado municipal, Festas do Concelho e da Feira do Livro da Maia
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20 de outubro. A nova sede do clube
Exmos. senhores
Levado pelas asas do pensamento voamos até ao Salão Nobre da Câmara Municipal da Maia em 15 de abril de 2010 Esse abril não é o das águas mil mas de trabalhos mil que fazem recordar o verso da Eneida:”Post tot tantosque labores…” Foi o que tivemos de fazer e continuaremos.
Nesse dia a todos os títulos memorável, como será o dia de hoje. o Salão Nobre estava cheio de grandeza, de cultura e circunstância sendo de relevar a presença do SR Presidente da Câmara Municipal, Eng. Bragança Fernandes, a Comissão Nacional da Unesco representada pela Dra. Anna Paula Ormeche, Vereadores, Dr Sílvio Matos presidente do clube Unesco da cidade do Porto que muito nos ajudou a formar o nosso clube, o presidente da junta da freguesia da Maia e muitos outros.
Após um momento cultural de grande relevo a Dra. Ana Paula Ormeche e o Presidente da Cuma, Dr Raul da Cunha e Silva assinaram o protocolo que constituiu o clube Unesco da Maia. Cuma O Presidente do clube teceu considerações
O senhor Presidente da Câmara Municipal considerou uma mais valia para a Maia o clube UNESCO, e disse que estava disposto a colaborar e pediu uma salva de palmas. Essa dinâmica do post tot tantosque labores fez longo caminho. Trabalhando arduamente na área da cultura, na edição de estudos sobre temas maiatos sob a batuta da professora Lourdes da Cunha e Silva foram publicados 7 textos todos relevantes. constituindo-se como um dos grandes clubes Unesco de Portugal
Aqui e agora novamente em espaço municipal e perante numerosa assistência com a presença do SR Presidente da Câmara, Eng. Silva Tiago estamos a usufruir de uma sede longamente aguardada
SR Presidente, o clube Unesco da Maia agradece-lhe vivamente a si e a todos os seus colaboradores e autarcas. Sentimo-nos bem.
Entretanto, voltando ao post tot tantos labores olhando o futuro, há. que vencer os efeitos da pandemia e a usura do tempo renovando os quadros do clube, destilando-lhe mais juventude e pondo o site em movimento
Raul da Cunha e Silva Presidente da Assembleia-geral da Cuma
O Dr Adalberto Costa presidente do clube referiu o seu histórico e a ação do seu fundador em palavras breves, mas muito objetivas. Finalmente o senhor presidente da Câmara, eng. Silva Tiago louvou a ação do clube o seu valor e mérito bem como o motor de todo o movimento, ou seja, o professor Raul da Cunha e Silva. A Dra. Lourdes Graça da Cunha e Silva referiu o texto da CNU laudatório para o clube e para o próximo(7º) livro a apresentar brevemente
Um porto de honra culminou este dia a todos os títulos memorável
10 de dezembro de 2022 Natal Festejamos num almoço de natal o convívio, a fraternidade, a amizade.
São longas, muito longas, as origens dos tempos natalícios.
Sumariamente gostaria de relevar a memória dos tempos idos.
Quando se fala no solstício de inverno, recorda-se que os dias começam a aumentar e as noites a diminuir. Ou seja, cresce o tempo de luz e diminui o de noite, o das trevas.
É dentro desta metafísica que os romanos celebravam a festa do deis natalis lucis, ou dies Solis invicti. no 25 de dezembro e que a igreja sabiamente soube aproveitar-se deste e de outros eventos importantes do paganismo.
Fez coincidir o nascimento de Cristo com o dies natalis lucis.
Espírito de natal: os direitos humanos, a concórdia, a paz.
Acontece que hoje o natal é comércio. Se o ícone do natal era o sol, mais tarde, o presépio, hoje é o supermercado.
Até ao natal é o caminho para a paz ou o advento
RauL da Cunha e Silva
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20-1 de novembro. A água e a origem do mundo A água fonte de vida
A ONU (Organização Das Nações Unidas) declarou em 1992 o dia 22 de março como o Dia Mundial da Água. Divulgou também num importante documento a “Declaração Universal dos Direitos da Água”.
Tais atos revelam preocupação com a Água. Com efeito, dois terços do planeta Terra são formados por este precioso líquido e a pouca quantidade de Água potável, cerca de 0,008 %, do nosso planeta está sendo contaminada, poluída e degradada pela ação do homem.
O clube Unesco da Maia não podia passar em claro a vital importância da Água. Temos presente que a origem da vida no nosso planeta surgiu na Água. Ao longo de milhões de anos, os organismos vivos diversificaram-se e espalharam-se pela Terra, sendo que a sobrevivência de todas as espécies animais e vegetais continua ligada à Água. Mitos relacionados com ela, consideram-na um dos elementos essenciais da vida, a Matéria Prima que no projeto do homem está ligado à evolução do cosmos como um todo.
Tratar da Água nas religiões e na literatura clássica é conhecer uma multidão de divindades, ritos e mitologias aquáticas. Elas desenvolveram uma relação vital e simbólica com a Água. Isto vê-se na tradição oral, nos textos sagrados e nas práticas sociais.
Por isso, devemos ter presente o significado cultural e simbólico da Água quando a utilizamos. Um copo de Água contém mais de 10 milhões de moléculas que conviveram com os nossos antepassados e que conviverão com as gerações futuras, se soubermos defender este bem natural, património de toda a humanidade. Gotículas de Água guardam ″ingrediente secreto″ que pode estar na origem da vida.
Vamos trazer à colação a importância da Água em contextos míticos, bíblicos e religiosos, anteriores ao positivismo científico dos nossos tempos.
Os filósofos pré-Socráticos sustentam que o Universo é gerado de uma matéria única e original, “a Matéria Prima” que, para Tales de Mileto era a Água; para Xenófanes de Cólofon era o mar, fonte de Água e vento, e para Empédocles, um dos quatro elementos ". Água fogo, ar e terra.
No Egito, o Deus eterno era representado por uma serpente enroscada num vaso de Água. Para os polinésios, as águas primordiais eram mergulhadas nas trevas cósmicas,
Na mitologia babilónica,” nós criamos cada ser vivo a partir da Água”.
Cosmogonia bíblica: Segundo o Génesis, o espírito de Deus movia-se sobre a superfície das águas e decidiu que elas fossem povoadas de inúmeros seres vivos. O mar antes das terras. e as águas fonte de vida.
Cosmogonia muçulmana: Os céus e a terra formavam uma massa única que nós separámos. (...)Da Água tirámos todas as coisas viventes. (Alcorão, Capítulo 21.30). Tese idêntica à do Génesis.
Na cosmologia do Induísmo aparece em grande destaque o Ovo de Ouro depositado nas águas. que originou os seres que povoam a terra.
Em muitas mitologias, a criação acontece na medida em que o caos é ordenado, pela separação dos elementos (Água-terra-fogo-ar). Assim o caos(desarmonia)transforma-se em cosmos (harmonia). Em muitas narrativas este processo de ordenamento cósmico parte da Água, ou supõe-na como invólucro do caos. A Água não seria apenas um dos elementos, mas o elemento primitivo em que os outros estavam imersos.
Estamos perante uma associação profunda, primordial entre a Água e a vida como a destruição e a ressurreição simbologia que se encontra no batismo dos cristãos, judeus, muçulmanos e outras religiões, como a religião cósmica, paradigma de todas as outras.
Enuncia-se deste modo uma cosmogonia aquática que implica três movimentos: entrada na Água (Imersão) que é a morte, diluição na mesma e emersão com o regresso à vida. Ou seja, nascimento, morte e renascimento. Em todo este ciclo está a Água.
A literatura clássica não omite o problema da Água como podemos ver, por exemplo, nas Metamorfoses de Ovídeo (I,I-3) “Ante mare et terras et quod tetigit omnia caelum, unus erat toto naturae vultus in orbe quem dixere Chaos” (Antes do mar e das terras e de tudo o que banha todas as coisas só existia o chamado Caos) que era um amálgama onde se confundem terra, água e o ar que na água se juntaram para constituir o cosmos(caos cosmos).
. Ritos de aspersão, ablução e imersão
Nas Religiões, o uso ritual da Água segue um ritmo de envolvimento crescente que vai desde a simples aspersão, até à total imersão. Outro ritmo a considerar é o da interioridade, que vai da sensibilidade exterior à interior, com a ingestão de águas sagradas ou abençoadas. Gestos cultuais desse tipo registam-se amplamente. Para se livrarem do ciclo de reencarnações, os hindus mergulham no Ganges, considerado rio sagrado.
Os muçulmanos lavam os pés, os braços e o rosto antes da oração. Nos templos subterrâneos dedicados a Mitra (divindade indo-ariana da Pérsia) havia um ribeiro, para banhos de iniciação batismal. Na Gália pré-românica (atual França) centenas de lagoas e fontes eram consideradas miraculosas: beber sua água assegurava saúde, fertilidade e boa-sorte.
Quando João Batista voltou do deserto anunciando o tempo messiânico, usou o banho (baptismós) como sinal público de conversão (cf. Mc 1,4-5). Jesus de Nazaré ordenou este rito quando enviou seus apóstolos a pregarem a boa-notícia do Reino de Deus (cf. Mt 28,19).
O dilúvio e a renovação cósmica
Estamos perante uma associação profunda, primordial entre a água e a vida como a destruição e a ressurreição pela Água, simbologia que se encontra no batismo dos cristãos, judeus, muçulmanos e outras religiões. O simbolismo diluviano é uma constante em várias tradições religiosas. Estas tradições muito antigas encontram-se no mundo clássico, como em gentes orientais e primitivas, não, porém em todos os povos.
A narrativa do dilúvio que deu origem a várias imitações é semelhante à epopeia babilónica de Gilgamesh que encontramos .no relato bíblico sobre a arca de Noé, a arca e a preservação das espécies.
Podemos referir também a narrativa egípcia sobra a destruição dos homens, a lenda do dilúvio apresentada na mitologia indiana, as lendas do dilúvio americanas, europeias
A segunda parte da conferência foi continuada pela eng. Laura Mora
Sendo a água um recurso natural único, e valioso, a sua conservação e bom uso são fundamentais para garantir ao longo dos tempos a Vida no Planeta-
É preciso poupar, reutilizar reciclar para o bem comum.
Vários exemplos foram dados para economizar a água como o seu uso na casa de banho na cozinha nas lavagens assim como exemplos de equipamentos de economia da água.
Mas há muitos outros desafios: saber usá-la de forma racional, conhecer os cuidados que devem ser tomados para garantir o consumo de uma água com qualidade e buscar condições adequadas, de modo a tirar dela o máximo proveito possível.
Termino com uma inquietação: Num futuro próximo que água teremos?
2 de janeiro de2023 Dia mundial da Paz
“Se é no espírito dos homens que nascem as guerras, é no seu espírito que se deve construir a paz,mediante a educação, a ciência e a cultura” (Acto constitutivo da UNESCO, 16 de novembro de 1945).
Segundo Dalai Lama nunca poderemos obter paz no mundo sem conseguirmos estar em paz connosco.”
A paz não se refere somente ao silenciamento das armas, mas a muito mais. Nos tempos hodiernos, tem a ver com o diálogo das religiões, das culturas, do multiculturalismo e da economia.Se quisermos sintetizar, podemos relacionar a paz com a globalização e suas consequências, num mundo interligado, ou seja, no cosmos e no microcosmos.
A paz inicia-se no seio da família, desenvolve-se na escola e consolida-se na sociedade.
É, com efeito, dentro da família que se dão os primeiros passos para a educação, quer a nível da linguagem, da assimilação dos usos e costumes ,da aceitação da autoridadee, da formação dos valores morais e cívicos, da harmonia e paz entre todos os membros da família.
Mas para isso é necessário que a família seja família e não apenas a junção ocasional de dois seres (em princípio homem e mulher).
Se assim não for, será o que todos sabemos: violência doméstica, mortes, agressões entre pais e filhos. Por isso, reafirmamos que a paz, fruto da educação inicia-se na família.
Depois da família, a escola.Se a família educa ensinando, a escola ensina educando.
A escola ensina o quê e como.Quem ensina?.Quem aprende?Questões muito vastas de um universo muito complexo que não vamos analisar.
Quando se diz educação para todos, estamos a dizer para rapazes e raparigas (igualdade de género). Quando se diz para toda a vida, afirmamos que ela é uma exigência de todos os dias da nossa existência. Os objetivos escolares são, grosso modo, aprender a aplicar na prática os conhecimentos teóricos e saber comunicá-los. Aprender a viver juntos, a viver com os outros. É um dos maiores desafios do educador já que se insere na área das atitudes e dos valores, no combate aos preconceitos, às rivalidades, às lutas na escola entre alunos.
A educação deve ter como finalidade o desenvolvimento total do indivíduo, visa o seu desenvolvimento individual, a busca da sua autonomia, os valores, os sentimentos, a liberdade de pensamento, o viver consigo mesmo e, em segundo lugar, com a sociedade e a aprender a empreender.
Hoje em dia, grande parte do destino de cada um de nós, joga-se num mundo global, imposto pela abertura das fronteiras económicas e financeiras; por teorias de livre comércio, pelas novas tecnologias da informação, pela interdependência planetária que não cessa de aumentar, no plano económico, científico, cultural e político.
Depois da paz escolar, a paz na sociedade.
Não é fácil viver em paz na sociedade..Si vis pacem para bellum. Se queres a paz, prepara a guerra escreveram os romanos.Não tratamos aqui da guerra, como a que, por exemplo observamos na Ucrânia e noutras partes do mundo cujos horrores nos espantam, como espanta a leitura do seguinte passo do Padre António Vieira.
Mas para viver em paz, temos de conhecer e superar bem as tensões do mundo global em que estamos, todo ele cheio de tensões: tensão entre o mundial, o regional e o local; tensão entre o universal e o particular; entre a tradição e a modernidade; entre o longo e o curto prazo, entre competência e igualdade de oportunidades, entre o material e o espiritual, entre o avanço explosivo dos novos conhecimentos e a capacidade humana de os assimilar Daqui se infere quão difícil é a paz, nos tempos hodiernos. Por isso, em 2022/12/25/ o Papa Francisco, em-bênção de Natal, diz: o mundo-vive-carestia-de-paz.
Em época de paz, os filhos enterram os pais, enquanto em época de guerra são os pais que enterram os filhos. (Heródoto)
É tão importante a paz no mundo que as duas maiores autoridades na Terra (uma no espírito religioso, outra no civil) decidiram relevar o evento. O papa Paulo VI criou o Dia Mundial da Paz, com uma mensagem do dia 8 de dezembro de 1967 para que a partir de 1968, fosse celebrado sempre no primeiro dia do ano civil (1 de janeiro) o Dia Mundial da Paz.
O Dia Internacional da Paz é celebrado anualmente a 21 de setembro. É uma iniciativa a nível mundial estabelecida pelas Nações Unidas em 1981.
Tem como objetivo levar as pessoas a sensibilizaram-se para a necessidade da paz no mundo e para promoverem atos que tenham como resultado o fim dos conflitos entre povos e a consagração da paz mundial.
A concluir: pax vobis (a paz esteja convosco.)
RauL da Cunha e Silva
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8 Dezembro. Vice-Presidente da Câmara Municipal apresenta livro sobre Mulher da Maia
“A Mulher da Maia. Elites no feminino: a Senhora e a Lavradeira Rica”. Assim se denomina o livro lançado, este sábado, pelo Clube Unesco da Maia e que diz respeito ao período de final do séc. XIX e início do séc. XX e que teve apresentação da Vice-Presidente da Câmara Municipal, Emília Santos.
É uma obra que reúne o contributo de 22 autores, na sua grande maioria, membros do Clube UNESCO da Maia, que deram corpo ao objetivo anunciado aquando da edição do 1.º volume voltado para a temática da mulher e que passava por aprofundar a problemática da mulher, na sociedade maiata, que se apresenta vasta e diversificada, abordando as condições económicas e sociais específicas da Senhora e da Lavradeira Rica, posicionadas, deste modo, no topo da pirâmide social, no lado oposto ao da mulher do campo estudada no 1º volume.
Este livro foca-se no estudo das microbiografias de oito mulheres nascidas na Maia ou que fizeram das Terras da Maia a sua terra. São elas Ângela Adelaide de Calheiros e Menezes, Carolina Michaellis de Vasconcelos, Catarina Justina Bellocq, D. Maria Peregrina de Sousa, Guilhermina Suggia, Maria da Conceição de Lemos Pereira de Lacerda Sant´Iago Magalhães, Maria Margarida de Oliveira Pinto e Rita de Moura Miranda Magalhães.
A apresentação da obra esteve a cargo da Vice-Presidente da Câmara Municipal da Maia, Emília Santos, que não esquecendo a biografia daquelas “extraordinárias” Mulheres destacou que o livro “ganha ainda mais relevância ao oferecer-nos o Contexto Geográfico e Administrativo que faziam da Maia a terra de eleição de vilegiatura da burguesia portuense, o papel da Mulher e a evolução da sua emancipação à luz do direito e da lei”.
Emília Santos destaca, ainda, os textos dedicados à Mulher da Maia no Contexto Sociopolítico e cultural e que focam os lugares considerados apropriados, na época. “De caminho, o livro destaca o papel da Senhora e da Lavradeira Rica na estrutura social, sendo de elogiar o trabalho documental que enriquece os textos”, concluiu a Vice-Presidente.
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27 de janeiro e 3 de fevereiro. Terra da Maia entre os séculos X e XII: da construção do território à organização dos poderes
Programa de atividades
1ª sessão Territorialização e senhorialização da Terra da Maiaª
Luís Carlos Amaral (Faculdade de Letras da Universidade do Porto; CITCEM-UP; CEHR-UCP)e 3 de fevereiro
Antes de iniciar a conferência o doutos Raul da Cunha e Silva. Presidente da Assemblei-Geral da Cuma resumiu em poucas palavras o currícula do professor Doutor Luis Amara na seguinte narrativa
Luís Carlos Correia Ferreira do Amaral licenciou-se em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), em 1983, escola onde obteve os graus de Mestre em História Medieval, em 1987 e o de Doutor em História da Idade Média, em 2008. É docente do Departamento de História e de Estudos Políticos e Internacionais da referida Faculdade, desde 1984. Tem lecionado sobretudo disciplinas da área de História Medieval de Portugal, História Medieval Ibérica, História Geral da Idade Média e História da Igreja em Portugal. Atualmente desempenha as funções de Vice-Presidente do Conselho Científico da FLUP e de Vice-Presidente da Comissão de Ética da Universidade do Porto. No que respeita a temas de investigação, tem privilegiado estudos sobre povoamento e organização social do território (séculos X-XIII), bem como sobre instituições eclesiásticas medievais portuguesas. Acerca destas matérias, proferiu já mais de 60 conferências e seminários, tanto no país como em Espanha, Itália, Hungria e Líbano. Conta mais de seis dezenas de trabalhos publicados (livros e artigos), entre os quais se destacam:
3 de fevereiro, 15h - 16.30h) - Articulação dos poderes laicos e eclesiásticos na Terra da Maia momento em que o jovem infante Afonso Henriques acedeu ao poder, logo após a vitória alcançada na Batalha de S. Mamede, travada próximo de Guimarães, no dia 24 de Junho de 1128, o território que passava a governar possuía já uma longa e complexa história de organização e desenvolvimento. Com a presúria de Portucale ocorrida em 868, encetou-se o domínio do Vale do Douro por parte da monarquia asturiana, protagonizado, na zona mais ocidental, por destacados magnates galegos. A partir deste momento e nos séculos seguintes, observou-se um movimento de gradual organização da terra e das comunidades aí instaladas, visando a sua plena integração no reino asturo-leonês. As circunstâncias de região de fronteira entre a Cristandade nortenha e o Islão que cedo adquiriu, ditaram uma das mais decisivas e dinâmicas características do Entre-Douro-e-Minho, que muito condicionaram a futura edificação do reino de Portugal. É precisamente este o cenário no qual vemos emergir, entre os finais do século X e as primeiras décadas do XI, um pequeno território no qual estavam em curso processos vários de fixação de comunidades, de organização política e militar e de ordenamento eclesiástico e económico. Se o que acabámos de afirmar é em tudo semelhante ao que se verificava em outros territórios situados a sul do Minho, nem por isso a Terra da Maia, apesar da permanente oscilação dos seus limites, deixou de adquirir uma identidade muito particular, especialmente testemunhada na poderosa elite local, a linhagem da Maia, cujos principais protagonistas dos inícios do século XII estiveram umbilicalmente ligados à afirmação da monarquia portuguesa. Deste modo, observando as especificidades do processo de organização social do território maiato e da constituição de uma rica e influente aristocracia regional, tornam-se mais claros e compreensíveis os passos iniciais que levaram à construção da realeza de D. Afonso Henriques, primeiro e inovador elemento da formação de Portugal. “
Professor Doutos Luís Amaral
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10 de fevereiro. A Terra da Maia: aproximações à evolução da geoadministrativa do território
A origem do topónimo “Maia”
Conhecer a origem do atual topónimo “Maia”, afigura-se relevante para compreender os fatores geográficos caracterizadores do território. Como é comum nestes assuntos de toponímia, que têm raízes que se perdem na bruma do tempo, as teses são variadas. Apesar disso, os estudos mais recentes, apontam para uma tese que parece, até ao momento, aquela que é dotada de maior veracidade. Esta tese foi apresentada e defendida, desde a década de 1970, pelo Professor Doutor Armando Coelho Ferreira da Silva, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, que decifrou as inscrições encontradas em Alvarelhos (atualmente uma freguesia do concelho da Trofa, juntamente com Guidões). Esta nova perspetiva sobre a origem do topónimo “Maia”, foi despoletada pela descoberta da chamada “Ara dos Madequisenses” em 1972 e datada do séc. IV D.C., numa bouça da freguesia de Alvarelhos, atualmente do concelho da Trofa . As inscrições fazem referência a um povo que terá existido na região do interflúvio Douro-Ave, que dava pelo nome de “Madequisenses”. Daqui terá derivado o topónimo “Maia”, o que aliás é corroborado pelas referências de documentos medievais ao “Castellum Madia”, que terá existido na atual freguesia de Águas Santas, perto do Alto da Maia. Segundo José Augusto Maia Marques esta hipótese é “a mais plausível” até “sob o ponto de vista do significado” pois “justamente o radical indo-europeu MAD, que está na base da formação do termo Madia, exprime a ideia de “terra húmida.”” Ou seja, a característica húmida do território foi decisiva para o seu “batismo”. As condições geográficas do território ditaram o nome pelo qual ele passou a ser conhecido. Segundo José Vieira de Carvalho “a evolução Madea>Madia>Maia é perfeitamente plausível e crível.” Esta origem toponímica, parece ligar, umbilicalmente, o nome do território às suas características naturais, de terra com solos férteis e irrigados, propícios, portanto, à agricultura ou à lavoura. Atividades a que as mulheres e homens da Maia, e todos os quantos se fizeram maiatos por virem para a Maia trabalhar, nas casas de lavoura, sempre estiveram tão dedicados. .
A evolução da configuração geoadministrativa da Maia: influxo e consequências geográficas
Da fundação de Portugal ao Liberalismo
A organização do território, à data da fundação da nacionalidade, era caracterizada pela existência de Tenências (tenens), sendo que, “o tenente se foi convertendo na menção prioritária sobre as demais denominações ao que exercia funções políticas sobre uma terra ou «distrito» administrativo […] A supremacia militar dos infanções a nível local, a necessidade, por parte do rei, da sua colaboração na empresa da Reconquista, levou o monarca a tentar conquistar a sua fidelidade e a recompensar o serviço prestado com a concessão vitalícia de honores e tenências, isto é, da administração de uma região, lugar ou fortaleza, em beneficio do vassalo.” Uma característica da Idade Média é a existência destes laços de dependência pessoal, entre o soberano e o vassalo, sob a forma de laços de vassalidade. “As terras eram, pois unidades militares e administrativas” em que a autoridade era exercida por um tenente, elemento da aristocracia local. A Terra da Maia não fugia à regra e era uma tenência, sendo que, Gonçalo Mendes da Maia foi um dos seus tenentes mais conhecidos associado aos primórdios da Terra da Maia. “Embora a documentação nos não forneça uma formulação teórica da tenência, um quadro lógico e completo da divisão administrativa, nem tão-pouco uma definição precisa das terras como unidades territoriais ou funcionais, estas eram, todavia, distritos jurisdicionais, em relação aos quais se precisava a localização geográfica de propriedades e povoações.” As famílias que ocupavam as tenências adquiriram, em muitos casos, o nome da terra, sobre a qual, de alguma forma, detinham a jurisdição, como é o caso dos Mendes da Maia. Este fenómeno é descrito no volume III da “Nova História de Portugal”, da seguinte forma: “Dir-se-ia que a família estruturou o espaço e o espaço estruturou a família. O espaço estruturou a família, que passou a designar-se pelo nome desse espaço. A família, por sua vez, passou a ser a representação física desse mesmo espaço. À apropriação do nome seguiu-se a identificação com o espaço.” Esta organização em tenências vigorou até ao século XIV, no entanto, o papel exercido pelos donatários das terras, não andava muito longe do das antigas tenências e foi perdendo protagonismo com a estruturação do poder municipal e com a consolidação centralizadora da Coroa.
A Maia nas Inquirições de 1258
Nos primeiros séculos do reino de Portugal “os diplomas régios…não nos tornam possível, pela falta de concretização, elaborar um mapa jurisdicional completo e pormenorizado que mostre com rigor os limites administrativos das circunscrições territoriais. E […] torna-se impossível, por agora, estabelecer com precisão […] a sua delimitação geográfica e a sua hierarquização” No entanto, nas Inquirições de 1258, juntamente com outras realizadas nos séculos XIII e XIV, que representaram um importante instrumento de centralização e consolidação do poder do Rei, é possível ter uma ideia do que seria a configuração do território da Terra da Maia. Estes inquéritos funcionavam como meio do monarca “inspecionar” e averiguar a existência de alegados abusos praticados por senhores e populações locais, que alargavam, de forma ilícita, terras imunes, como coutos e honras , sobre as terras da Coroa negando-se a pagar os tributos e impostos a que estavam obrigados, não tendo, por isso, o objetivo de descrição e delimitação precisa e exata dos territórios, algo que se manifesta mais recentemente. Pelo que, no que à Maia diz respeito, pode haver muitas omissões quanto às localidades pertencentes ao território maiato. No Mapa 1 podemos observar a dispersão das localidades pertencentes ao território maiato, mencionadas nas Inquirições de 1258. Já referimos que muitas localidades e freguesias são omitidas, até porque, mas não só, algumas parcelas do território maiato constituíam terras imunes. A referência a estas terras é escassa, pelo facto de constituírem territórios que não estavam sujeitos diretamente à jurisdição régia, pois eram dotadas de privilégios e tinham uma jurisdição autónoma da Coroa. São exemplo deste facto a área abrangida pelo Couto de Moreira (coincidente com a área das atuais freguesias de Moreira e Vila Nova da Telha, no concelho da Maia) e pelo Couto de Leça do Balio (coincidente com as freguesias de Leça do Balio, Custóias e São Mamede Infesta, do concelho de Matosinhos, e com as freguesias da Maia e Gueifães, do concelho da Maia, considerando as freguesias, conforme existiram até à reforma administrativa de 2013). Este aspeto é mais evidente, como iremos verificar, no Mapa 2, que diz já respeito às localidades referidas do Foral da Maia de 1519. Quanto à geografia da dispersão das localidades, ela extravasava muito os limites do atual concelho da Maia. Abrangia o território do atual concelho de Matosinhos, a norte do rio Leça, e, ainda, São Mamede Infesta, que fica a sul deste último; abrangia o território a sul do Ave, desde Azurara até São Martinho do Bougado. A leste, a referência às localidades maiatas é limitada pela emergência de uma linha de elevações, paralelas à linha de costa, desde Bougado, passando por Covelas, Folgosa, Alfena e, penetrando aí, pelo vale que liga a Valongo. Desde já se denota a influência marcante dos elementos da geografia física, nesta simples análise das dispersões das localidades referidas nas Inquirições de 1258. Torna-se, assim, evidente, o papel de fronteira natural desempenhado, a norte, pelo rio Ave, a fronteira, obviamente intransponível, a oeste, do oceano Atlântico e, a leste, os relevos da Serra dos Cantoneiros. Chegando a Alfena, pela veiga do Leça e ribeiras afluentes, a área da Terra da Maia parece penetrar até Valongo, já nas faldas da Serra de Santa Justa. A sul, a delimitação choca com a área de influência do burgo portuense e com o concelho de Bouças (atual concelho de Matosinhos).
MAPA 1. Localidades referidas nas Inquirições de 1258 como pertencentes à Terra da Maia.
A Terra da Maia no Foral de 1519
Na segunda metade do século XIV, dão-se algumas alterações que vão perdurar até ao advento do liberalismo, no século XIX. Alterações essas relacionadas com a autonomia do concelho da Maia, que passava a estar dependente da cidade do Porto, em determinados aspetos. Segundo Francisco Ribeiro da Silva “os reis D. Fernando e depois D. João I, cedendo às pressões dos burgueses portuenses que se queixavam de falta de gente e de insuficiente provimento de géneros, ofereceram à Câmara e à cidade como generoso alfoz os sete julgados ou concelhos circundantes…” . Isto sucedeu com a Maia que ficou sujeita e dependente da Câmara do Porto e do seu Senado Municipal. Apesar deste facto, a dependência não foi total e os concelhos visados mantiveram uma identidade própria, sendo esta situação corroborada, pelos forais novos, ou manuelinos, porque concedidos pelo rei D. Manuel I, a estes concelhos, independentemente do foral concedido ao Porto. Na sequência do que acabamos de referir, é atribuída à Maia, uma carta de foral, pelo rei D. Manuel I, a 15 de dezembro de 1519, com o “título” de “Foral da Terra e Conçelho da Maya” . Embora não delimitando com exatidão o território maiato, pois não é essa a finalidade de uma carta de foral, e por isso omitindo outras localidades, é feita referência a um conjunto de localidades que o Mapa 2 representa. Evidenciando as tendências verificadas no Mapa 1, verifica-se, em contraponto com este último, escassas referências à área a sul do rio Leça, do atual concelho de Matosinhos, e, mesmo a norte desde rio, as referências são menores. Área intensamente referenciada é a que, atualmente, coincide com a área do concelho da Trofa e com a área oriental do atual concelho da Maia. Surgem, mais uma vez, referenciadas localidades pertencentes às atuais freguesias de Alfena, Ermesinde e Valongo. E evidencia-se a pouca referenciação dos territórios pertencentes ao Couto de Moreira e ao Couto de Leça do Balio, na lógica do que atrás referimos. A ordem pela qual as localidades são referidas, no Foral da Maia, evidencia uma ordenação segundo critérios geográficos, por este facto e decorrente da análise que fizemos ao documento, parece-nos que Álvaro Aurélio do Céu Oliveira se equivoca quando refere que a localidade de Lagoa, referida no Foral da Maia, corresponde à atual freguesia de Gueifães . Apesar de haver, ainda hoje, um lugar de Gueifães, que tem por nome Lagoa, parece-nos que a Lagoa que vem referenciada na carta de foral de 1519, diz respeito a um lugar da atual freguesia de Santiago do Bougado, no concelho da Trofa, isto tendo em conta o critério
MAPA 2. Localidades referidas no Foral da Maia (1519).
de apresentação implícita na ordenação das deliberações feitas às freguesias e pelas pistas que o próprio texto apresenta, nomeadamente a alusão ao casal que o neto do abade de Bougado teria em Lagoa. Apesar da diferença de 261 anos entre as fontes que constituem o documento das Inquirições de 1258 e do foral de Maia de 1519, há localidades cuja referência é feita em ambas , o que pode ser um indicador da importância, solidez e constância dessas localidades, enquanto aglomerados populacionais. Havendo interpretações que variam em pormenores, parece que o Concelho da Maia, por esta altura, tinha a configuração geográfica semelhante à que descreveu o Padre Agostinho de Azevedo. Ainda que superficial, a descrição é a seguinte: “Era limitada ao Norte pelo rio Ave, ao Poente pelo Oceano, ao Sul e a Nascente pela cidade do Porto e por uma linha abrangendo Rio Tinto, S. Mamede de Valongo, S. Lourenço de Asmes (Ermesinde), Alfena, Covelas e Bougados.”
A Terra da Maia no Numeramento de 1527
O Numeramento de 1527 , conhecido como “Numeramento ou Cadastro Geral do Reino, de D. João III”, é outra fonte do século XVI, realizado no reinado de D. João III, que nos dá informações mais precisas daquilo que seriam os limites geoadministrativos do concelho da Maia nesses anos, pois apresenta uma contagem de moradores ao nível da freguesia (no entanto, não corresponde ao total da população, pois excluiu as camadas mais jovens, não sendo contabilizados os chamados mancebos/solteiros, que tudo leva a crer que teriam um peso significativo no total da população). O mapa seguinte representa a área do concelho da Maia, em 1527, segundo o referido Numeramento.
MAPA 3. As freguesias da Maia conforme o Numeramento de 1527.
A definição mais rigorosa dos limites geoadministrativos da Maia, em 1527, confirma a tendência já identificada nos Mapas 1 e 2. Relevar que a fronteira norte é delineada pelo rio Ave, como havíamos referido, sento interrompida antes da foz do Ave, dado que Azurara não surge como localidade integrante do concelho da Maia. Nota-se, também, a ausência dos territórios correspondentes às atuais freguesias de Alfena e Valongo, bem como a associação de Baguim do Monte ao concelho da Maia. Os dados populacionais recolhidos no Numeramento de 1527 consagram a freguesia de Águas Santas como a mais populosa, com 74 moradores, como podemos ver no Quadro 1. Algo que pode justificar a grande densidade de localidades referidas no foral da Maia, em torno e na área da atual freguesia de Águas Santas. O mesmo se poderá concluir de Santiago do Bougado, que é a 3.ª freguesia com mais moradores.
Leça do Balio é a 2.ª freguesia com mais moradores (73), apesar das referências na área desta freguesia não abundarem no foral da Maia, o que é explicado pelo facto de se tratar de uma terra imune, pertencente ao Couto com o mesmo nome. Lavra surge como a 4.ª freguesia mais povoada, com 70 moradores, e assim se explica, em parte, a densidade de referências, patente no foral da Maia, a localidades pertencentes a esta freguesia. Parece, assim, haver uma correlação forte entre a densidade e proximidade geográfica das localidades referidas no foral da Maia e o peso populacional dessas áreas mais densamente referenciadas, ainda que, os dados populacionais do Numeramento de 1527 não nos deixarem tirar conclusões objetivas, permitindo, apenas, assinalar tendências. Desta forma, uma área densamente referenciada pode constituir um indicador de que se trata de uma área com uma densidade populacional relativamente maior de que as restantes, capaz de se individualizar em diferentes núcleos populacionais próximos entre si. Daí que, sendo estas áreas mais densamente povoadas, haja uma maior complexificação das relações sociais, havendo necessidade de regulação por documentos, de alguma forma com carácter normativo e regulamentar, como o foral da Maia, que incidem sobre áreas problemáticas, que são, claro está, áreas onde vivem pessoas.
A Terra da Maia na obra de Francisco Ribeiro da Silva
São poucos os trabalhos que se têm dedicado à reconstituição daquilo que teria sido a área do concelho da Maia durante a época Medieval e Moderna. Francisco Ribeiro da Silva na sua obra “O Porto e o seu Termo (1580-1640). Os Homens, as Instituições e o Poder”, através do cruzamento de diversas fontes, chega a uma configuração geoadministrativa que se apresenta no Mapa 4. No entanto, tomei a liberdade de acrescentar ao mapa que o autor apresenta na sua obra a freguesia da Leça da Palmeira que, como o próprio refere, surge nos Livros de Vereações, ora localizada na Maia, ora localizada em Bouças (Matosinhos) . Francisco Ribeiro da Silva optou por, na sua obra, enquadrá-la em Bouças dada a sua posição geográfica. De qualquer forma, o que isto significa é que Leça da Palmeira teve sempre um carácter oscilante no que a esta matéria diz respeito. Feita esta ressalva, a Maia seria composta, na época Moderna, mormente no período em que incidiu o estudo de Ribeiro da Silva (1580-1680), por 55 freguesias (incluindo Leça da Palmeira). A reconstituição de Francisco Ribeiro da Silva consagra o rio Ave, desde a sua foz (incluindo Azurara) até São Martinho do Bougado, como o limite Norte do concelho da Maia, ou seja, uma delimitação altamente condicionada por este elemento da geografia física. O mesmo sucede, a leste, com a linha de relevos paralelos à linha de costa, que se estendem desde a atual cidade da Trofa até Valongo, essencialmente protagonizado pela Serras dos Cantoneiros e de Santa Justa. A sul encontramos o vale do rio Leça que, não sendo fronteira, como o rio Ave, é, pelo contrário, agregador, sendo que, a área do concelho se estende para sul deste rio, a partir de Alfena, e daí penetrando até Valongo, e atravessando Águas Santas, São Mamede Infesta, Leça do Balio e Custóias. Daqui para sul, os limites do concelho eram marcados pela área de influência direta do burgo portuense.
MAPA 4. A Maia entre 1580-1640 (período cronológico do estudo de Francisco Ribeiro da Silva).
Curiosamente, de Custóias para jusante, a margem esquerda do Leça deixa de pertencer à Maia, podendo esse facto estar, também, relacionado com condicionantes da geografia física pois, a partir daí, o vale do Leça torna-se mais encaixado e íngreme, dessa forma pouco propício à fixação de populações, não havendo a criação de laços de vizinhança que ajudam a constituir uma identidade comum, entre as populações ribeirinhas. Ainda hoje podemos constatar este facto, nesta área onde o Leça força a sua passagem.
As profundas transformações do século XIX
Parece paradoxal, mas o reconhecimento que os maiatos obtiveram, dos homens do liberalismo, pelo seu empenhamento na luta contra os absolutistas, nomeadamente na receção feita ao exército libertador, liderado por D. Pedro IV, que desembarcou em terras maiatas, na praia dos Ladrões, em Pampelido (Perafita) e acampou em Pedras Rubras, no ano de 1832, bem como no apoio prestado, aquando do cerco do Porto, não foi o pretendido em terras maiatas. Antes pelo contrário, como veremos. Daí a ingratidão que significou para o concelho, no entender dos seus representantes, o desmantelamento da sua unidade territorial secular devido às reformas administrativas do liberalismo. O novo regime liberal “instaurou uma administração local centralista e hierarquizada que visava o controlo efectivo do território nacional e das comunidades locais pelo Terreiro do Paço; o liberalismo substituiu o «caos» e a dispersão administrativa do Antigo Regime e agravada pelas invasões francesas e pela instalação da corte no Brasil, por um sistema burocratizado e centralizado assente num processo sistemático de nomeação de agentes do Estado, representantes do poder central…” . O concelho da Maia foi um dos mais visados por esta reforma, sendo que, em 1835, antes da reforma se iniciar, este era composto por 52 freguesias. O Mapa 5 representa a dimensão do concelho da Maia antes do decreto de 6 de novembro de 1836. Nele nota-se a ausência de Leça da Palmeira e das freguesias do atual concelho de Matosinhos, que pertenciam ao couto de Leça do Balio, e de Azurara, junto à foz do Ave, na sua margem sul. A sul surge uma incorporação inédita protagonizada pela freguesia de Paranhos, que aparece associada ao concelho da Maia, após a extinção do couto de Paranhos. Outra freguesia associada à Maia, pela primeira vez, é a de Santa Cristina do Couto, cuja integração se dá após a extinção, desta feita, do couto de Santo Tirso. Estas novidades surgem muito mais enquadradas numa solução de recurso face ao processo de extinção dos privilégios locais e terras imunes, levadas a cabo pelos governos liberais, do que, como soluções definitivas com perspetivas de consolidação futura.
MAPA 5. O concelho da Maia antes do início do processo de desanexações em 1836.
Outro aspeto a analisar, no Mapa 5, é o traçado das principais estradas que atravessavam o concelho da Maia, na primeira metade do século XIX. Uma análise já do âmbito da geografia humana. Pelos territórios que ligam (ligando o Porto às principais cidades do Noroeste português), essas estradas faziam da Maia um autêntico território de interface, entre a cidade do Porto (que vivia, com o advento das ideias liberais, um período em que começa a industrializar-se e a fervilhar economicamente), e o hinterland rural. Desta forma, notamos que o papel que estas estradas desempenhavam, nos locais por onde passavam, era desbloqueante, proporcionando o desenvolvimento de atividades de apoio aos viajantes, como hospedarias e “vendas”. Estas estradas proporcionaram uma dinâmica estruturada, ao longo de autênticos “corredores” de circulação, onde pessoas e bens, provenientes do hinterland rural e das cidades nortenhas, procuravam a cidade do Porto e vice-versa. Assim, ao longo do território maiato, podemos assinalar três corredores estruturais, por onde circulava a “seiva” da Maia e da região, que marcaram, e foram marcados, pela organização do território. Assim temos: um corredor ocidental, definido pela estrada que do Porto segue por Águas Santas (Alto da Maia), Ermesinde, penetra pela veiga do Leça até Santo Tirso e daí bifurca, ora para Guimarães, ora para Braga, via Famalicão; um corredor central, consubstanciado pela estrada Porto-Braga, passando por Gueifães, por Barreiros (atual sede do concelho da Maia), pelo Castêlo (ao tempo, sede do vasto concelho da Maia), seguindo em direção à Trofa, Famalicão, atingindo Braga; e um corredor ocidental “corporizado” pela estrada que saía do Porto em direção ao Padrão da Légua e aí se bifurcava, ora por uma via litoral em direção a Vila do Conde e Póvoa do Varzim, ora por uma via mais interior tendo como destino Barcelos (seguindo, grosso modo, o percurso da antiquíssima Via Veteris). A oriente, referir ainda, a curta passagem, por território maiato, da estrada que ligava o Porto a Penafiel e, daí a Vila Real, via Valongo. Estes corredores, como podemos verificar no Mapa 5, não se encontravam localizados por acaso. O influxo geográfico é determinante, senão vejamos: o corredor ocidental penetra, desde Alfena até Santo Tirso, no vale do Leça, fugindo aos relevos da Serra dos Cantoneiros, por um lado, e da Serra da Agrela, por outro; o corredor central desenvolve-se ao longo da área central do atual concelho da Maia, que é uma área muito próxima da planície com vales pouco acentuados e, mais a norte, passa ao longo das faldas da Serra de Santa Eufémia, do Monte Grande e do Monte de São Gens de Cidai, daí encontrando um vale do Ave plano (a Serra de Santa Eufémia marca perfeitamente a distinção entre as áreas de influência do corredor central relativamente ao ocidental, de resto, nos dias de hoje, é aí que se encontra a fronteira entre os concelhos da Trofa e Vila do Conde); por fim, o corredor ocidental, que é aquele que encontrou melhores condições geográficas para se desenvolver ao longo de uma faixa ocidental mais aplanada.
MAPA 6. A Maia após o decreto de 6 de novembro de 1836.
A partir de 183, inicia-se o processo de desanexações de diversas freguesias, decorrente de uma reforma que apresentou muitos defeitos e que esteve exposta e permeável a várias pressões. Desde logo, a reforma foi feita por técnicos que não conheciam os territórios em causa, não valorizando a identidade geográfica e cultural dos mesmos, não tiveram em conta os interesses das populações, que no caso da Maia, demonstraram a intenção em continuar no concelho, e outras houve, que manipuladas e aliciadas por municípios vizinhos, na sua ânsia de alargar os respetivos territórios, solicitaram a desanexação do concelho. Assim, por Decreto de 6 de novembro de 1836, são desanexadas 31 freguesias ao concelho da Maia, tendo a “distribuição” sido a seguinte (indica-se o concelho para onde transitaram, seguido do nome das freguesias):
- Porto – Paranhos;
- Valongo – Alfena, Ermesinde e Valongo;
- Matosinhos – Guifões, Lavra, Labruge (mais tarde transitou para Vila do Conde), Perafita e Santa Cruz do Bispo;
- Santo Tirso – Covelas, Guidões, Muro, Santa Cristina do Couto, S. Mamede de Coronado, S. Martinho de Bougado, S. Romão de Coronado e S. Tiago de Bougado;
- Vila do Conde – Alvarelhos, Árvore, Canidelo, Fajozes, Fornelo, Gião, Macieira, Mindelo, Modivas, Retorta, Tougues, Vairão, Vila Chã e Vilar;
Em 1855, outro decreto desanexava, desta vez, Malta, ingressando esta freguesia em Vila do Conde. A 26 de junho de 1867, acontece o impensável, o concelho é suprimido, por um decreto desse mesmo dia. As 20 freguesias são distribuídas pelos concelhos de Gondomar, Matosinhos, Santo Tirso e Vila do Conde. No entanto, as manifestações de desagrado do povo maiato e dos seus representantes valeram alguma coisa, pois o decreto de 26 de julho é revogado a 14 de janeiro de 1868, voltando o concelho a ter 20 freguesias. Mas os problemas para o concelho ainda não tinham terminado. E, em 1870, transitam para o concelho de Vila do Conde, as freguesias de Guilhabreu, Mosteiró e Vilar do Pinheiro, seguindo, o mesmo destino, a freguesia de Aveleda, em 1871. No final de todas estas desanexações o concelho da Maia ficou reduzido a 16 freguesias, sendo elas: Águas Santas, Moreira, Vila Nova da Telha, Barreiros, Santa Maria de Avioso, São Pedro de Avioso, São Pedro Fins, Folgosa, Vermoim, Barca, Gemunde, Gondim, Gueifães, Nogueira, Milheirós e Silva Escura. A partir deste momento a Maia ficou com uma configuração geoadministrativa muito próxima da atual. A única exceção foi, em 1985, a criação da freguesia de Pedrouços, que era até então um lugar de Águas Santas.
MAPA 7. A Maia após a perda de Malta por decreto de 8 de maio de 1855.
Por conseguinte, o resultado do atual desenho administrativo do concelho pouco ou nada deve a condicionantes da geografia, em contraponto com a configuração anterior a 1836. A configuração a que se chegou é, no mínimo, invulgar, mas representa o coração da antiga Terra da Maia. A influência humana, através de decisões políticas discutíveis no processo de desmembramento do concelho, no século XIX, não conseguiu destruir traços identitários e peculiares da cultura maiata que ainda hoje permanecem.
O território maiato e as suas dinâmicas no século XX
Com o fim das convulsões causadas pelo processo de desmembramento, a que o concelho da Maia foi sujeito, no século XIX, e com a transferência da sede do concelho, no início do século XX, havia chegado ao fim uma fase conturbada na História da Maia e foi-se criando a estabilidade propiciadora de períodos de crescimento e de desenvolvimento. O século XX maiato fica marcado por um forte crescimento populacional em todo o concelho, à semelhança do que acontecia na globalidade do país, e particularmente no litoral. A melhoria das condições de vida são o principal fator a contribuir para este crescimento generalizado da população. Mas o crescimento da população concelhia não é homogéneo e a distribuição da população concelhia é condicionada pelos acontecimentos do século XIX, que estiveram na génese da transferência da sede do concelho para Barreiros, proporcionando uma maior proximidade da sede concelhia ao Porto. Desde o Recenseamento Geral da População de 1864, o polo constituído pelas freguesias de Águas Santas/Pedrouços evidenciou-se como o mais populoso do concelho devendo-se tal facto à proximidade destas freguesias à cidade do Porto, constituindo, o seu território, uma área de expansão do espaço urbano do Porto, com o qual estava, e está, muito interligado. A freguesia de Moreira, também se assumiu, desde 1864, como a segunda freguesia mais populosa, no entanto, esse estatuto foi perdido desde o Recenseamento Geral da População de 1991. De referir que a instalação em parte da área desta freguesia do Aeroporto de Pedras Rubras (na década de 1940) não foi o móbil deste protagonismo pois, este já vinha de trás. A freguesia da Maia, em 1864 ainda designada por Barreiros, evidenciava, já no recenseamento desse ano, um peso populacional de primeira linha, beneficiando das relativamente boas acessibilidades à cidade do Porto, por via da estrada Porto-Braga, vinda de São Mamede Infesta. Juntamente com a freguesia da Maia, as freguesias de Gueifães e Vermoim, viriam a desenhar um polo populacional significativo, no âmbito concelhio. Já a freguesia de Santa Maria de Avioso, onde se localizava a antiga sede do concelho, foi ocupando, de acordo com os dados dos diversos recenseamentos, uma posição secundária, em termos de peso populacional. Merece, também, nota um acontecimento formal importante, que se verificou em 1950: a alteração do nome da freguesia e vila de Barreiros para Maia. Assim sendo, a sede do concelho passou a ter a mesma designação do concelho. Quanto verificamos a evolução da dinâmica populacional da Maia, ao longo do século XX, concluímos que houve um gradual e global crescimento, em todas as freguesias. No entanto, esse crescimento não foi homogéneo, assim como a sua distribuição. Tornando-se evidente, que as freguesias do sul do concelho, apresentaram maiores contingentes de efetivos populacionais, devido à sua proximidade à cidade Invicta e às melhores acessibilidades ao coração da metrópole. Foram estas freguesias as primeiras a sentirem, na Maia, os efeitos da suburbanização, em torno dos grandes centros urbanos. Dentro desta área do concelho, com mais dinamismo em termos de crescimento populacional, evidenciaram-se dois polos: um polo “antigo”, porque não representava uma novidade, que era constituído pelas freguesias de Águas Santas e Pedrouços; e um outro, com uma emergência recente, que é constituído pelas freguesias da Maia, Gueifães e Vermoim que, desde 1986, constituem a área da Cidade da Maia e, desde 2013, a Freguesia da Cidade da Maia. Este último polo foi, sem dúvida, estimulado pela transferência da sede do concelho, para a Maia e, mais recentemente, pela abertura da “Via Norte”, concretizando uma via rápida de ligação ao Porto, como variante às Estradas Nacionais 13 e 14. Este último fator contribuiu, de sobremaneira, para a dinamização da expansão urbana do Porto para norte. A elevação a cidade, em 1986, corrobora a emergência e crescimento deste polo em diversos aspetos, tendo à cabeceira, o elemento populacional. Freguesias como Nogueira e Milheirós, localizadas nos interstícios destes dois polos apresentaram, também, um crescimento populacional assinalável, assim como Moreira, que veio consolidando a sua posição, como uma das freguesias mais populosas do concelho algo que, como já vimos, não foi novidade.
A Maia Hoje
A Maia como hoje a conhecemos afirma-se, territorialmente, enquanto cidade e concelho de forma significativa. O take off dessa afirmação, foi o momento em que a sede do concelho foi transferida para a então freguesia de Barreiros pois, pela primeira vez, a Maia estava dotada de um centro administrativo e político, capaz de se afirmar, enquanto aglomerado urbano, junto à Estrada Nacional 14 e beneficiando da proximidade ao Porto e do crescimento populacional. A primeira metade do século XX, constituiu um período de estabilização em que, não se rompeu abruptamente com dinâmicas do passado, continuando, a Maia, marcada por uma ruralidade profunda, desempenhando um papel típico de um território de hinterland rural, enquanto abastecedora de “frescos” à cidade do Porto. A partir dos anos de 1950, com a melhoria resultante de investimentos em infraestruturas como o Aeroporto de Pedras Rubras e o Porto de Leixões e, mais recentemente, com a abertura da “Via Norte”, na década de 1970, e a melhoria de outras acessibilidades, começaram a fixar-se no território maiato atividades económicas, ligadas à indústria e serviços, que foram transformando a face do concelho, desprendendo-o do estereótipo único, de concelho rural. A “Via Norte” impulsionou, como já vimos, o aumento da população, por via da maior proximidade ao Porto, e um consequente processo de urbanização, de industrialização e terciarização, ao longo do eixo definido pelo traçado da “Via Norte”. O aglomerado periférico protagonizado pela Maia passou, a partir daí, a constituir o local de eleição para residência de muitos que tinham os seus empregos na cidade Invicta. “Daí que se mantenha ainda a predominância tipológica das habitações unifamiliares isoladas e/ou geminadas, em matriz dispersa ou linear, de um ou dois pisos, com os seus quintais ou jardins, pontuada, excepcionalmente, por alguns núcleos de habitação plurifamiliar (de salientar os conjuntos de habitação social do ex-FFH e as diversas cooperativas de habitação, construídas a partir da década de 70), que marcam, de forma incisiva, o ambiente urbano da Maia.” Nos últimos 20 anos, constituiu uma importante medida de ordenamento territorial a criação de Zonas Industriais, face à proliferação pelo concelho, em meios inadequados, de unidades produtivas e armazenistas. O que é indicador da vitalidade do sector industrial e empresarial no concelho.
MAPA 8. A Maia Hoje. A afirmação de uma centralidade?
O concelho viu-se, ainda, apetrechado com novas infraestruturas rodoviárias (como a A3, A4, A28, A41 e VRI), ferroviárias (como o Metro do Porto, estando previsto o alargamento da rede) e aeroportuárias (com melhorias no Aeroporto Francisco Sá Carneiro e a abertura do Aeródromo Municipal de Vilar de Luz). O nível de importância, alcance e impacto destes melhoramentos de acessibilidades vão desde o âmbito nacional ao local. “A própria elevação à categoria de cidade traduz um reconhecimento do acréscimo de polarização ao nível das dinâmicas urbanas territoriais.” Em termos administrativos, e ao nível das freguesias, em 2013, entrou em vigor uma nova reforma administrativa, que veio diminuir de 17 para 10, o número de freguesias do concelho, por agregação de várias (e não por desanexação para outros territórios). Mas sobre essa reforma e as suas consequências, falaremos noutra melhor oportunidade. Em síntese, a Maia de hoje é fruto de uma evolução positiva, acentuada nos últimos 40 anos, com fortes indicadores de crescimento e desenvolvimento. Beneficia, também, de uma posição privilegiada, no seio da Área Metropolitana do Porto (AMP), em termos de acessibilidades, o que potencia este território enquanto interface (característica que já havíamos apontado anteriormente, só que num outro período e noutras condições), entre o espaço metropolitano e outros espaços regionais e, aproveitando as potencialidades do aeroporto, entre o país e o mundo.
Bibliografia e Fontes
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MARQUES, J. A. Maia – 500 anos do Foral da Maia -
24 de fevereiro e 3 de março. A Maia: apontamentos de geografia histórica e contemporânea
As sessões em causa procuram revisitar alguns fatores (em particular os de carácter geográfico), os acontecimentos e as relações que marcaram a evolução geoadministrativa da Maia e que marcam a atual geografia administrativa maiata.
O documento medieval das Inquirições de 1258 surge aqui como dos primeiros documentos “oficiais” através do qual é possível ter-se uma ideia do que seria a configuração geoadministrativa da Maia. No que diz respeito aos alvores da modernidade dois documentos muito próximos cronologicamente dão-nos uma noção mais precisa do que seria a Maia no século XVI, sendo eles, o Foral de Maia, atribuído em 1519 e o Numeramento de 1527, no que concerne à Maia. Para a Idade Moderna, recorremos, ainda, à reconstituição da geografia administrativa da Maia feita por Francisco Ribeiro da Silva na sua obra “O Porto e o seu Termo (1580-1640). Os Homens, as Instituições e o Poder”. Já no século XIX, é analisada a situação da Maia em vésperas do decreto de 6 de novembro de 1836, que marcou o início do processo de desmembramento do concelho, com desanexações de dezenas de freguesias. A entrada no século XX é marcada por um acontecimento marcante na geografia administrativa maiata: a transferência da sede do concelho. Este acontecimento estimulou o desenvolvimento do concelho alicerçado na emergência de uma nova centralidade, evidenciado, na atualidade, por aquilo que é hoje a cidade da Maia.
Na 2.ª sessão, o nosso foco estará nas mudanças administrativas realizadas, ao longo do século XX e início do século XXI, compreendendo as permanências e as alterações, que influenciam a governança e a geografia do território maiato dos nossos dias. Ao longo deste percurso histórico é nossa intenção evidenciar o influxo e consequências geográficas em todo este processo evolutivo que conduziu à atualidade.
Dr. Hélder Quintas Oliveira
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8 de Março. Dia mundial da mulher
O Clube Unesco da Maia promoveu a comemoração do Dia Internacional da Mulher, o dia 8 de março. Convidou, nesse sentido o professor catedrático da Universidade do Minho, Fernando Augusto Machado. Na sede do Clube, o Professor proferiu a palestra “Bocage – amores, pecados e redenção”. Abordou a vida e a obra do poeta, remetendo para os temas consignados no título. Colocou a ênfase na poesia erótica que ilustrou com a leitura de poemas. A palestra cativou o interesse dos assistentes, pela matéria e pela vivacidade imprimida pelo conferencista, verificando-se o debate no final. Fernando Augusto Machado tem centrado a sua investigação na Filosofia do século XVIII, na História das Ideias em Portugal e na Cultura Portuguesa, contando com uma vasta produção científica nestas áreas e correspondente publicação no país e no estrangeiro.
Adília Fernandes.
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7 de Abril. Comarca da Maia
Aconteceu em 07/04/2023 na sede social do CUMA, uma conversa sobre a Comarca da Maia, dirigida pelo associado Adalberto Costa e tendo por base um trabalho seu publicado no mês de março pela editora Âncora, de Lisboa. Na conversa que foi desenvolvida com os associados presentes, foi feita revista pela composição do concelho da Maia, antes designado por Terra da Maia enquanto organização administrativa ou pelo menos enquanto sinal para a necessidade de o território necessitar de ser objecto de uma certa organização administrativa e judicial. Juntamente com tais sinais, foram revistos aspetos que estavam ligados aos oficiais (judiciais) da Terra da Maia e ao modo como exerciam as suas funções, não se deixando de referir a dependência da Maia enquanto território do termo da cidade do Porto, dependência quanto ao poder do Senado portuense, como no exercício dos poderes jurisdicionais. Ao de leve, a conversa viu o foral da Maia ser referido, assim como alguns dos seus aspetos jurídicos e económicos. É com o foral que a Maia adquiriu o estatuto de concelho e daí tomar alguma autonomia, mas sempre dependente da influência e domínio do Senado da cidade do Porto. Por último e em fim de conversa, foram trocadas perguntas e respostas, facto que enalteceu e demonstrou que o CUMA ao ter promovido sessões subordinadas à História da Maia, não deixou de contribuir para o engrandecimento cultural dos associados e de todos aqueles que com ele colaboram ou participam.
A.C -
22 a 29 de abril. Em torno do Foral da Maia
Os forais são documentos fundamentais para a História de Portugal, mormente na sua vertente Regional e Local. São documentos estruturantes para asa povoações que abrangem (novas ou já existentes) e condicionam profundamente as gentes que nelas habitam. Ainda Portugal não eras independente e já começaram a ser dadas cartas de foral. Durante toda a Idade Média foi prática comum. Mas o facto de muitos desses forais se terem tornado antiquados, motivou uma grande reforma por parte de D. Manuel I. É no contexto dessa reforma que surge o Foral da Maia. Nestas duas conversas, andaremos à volta deste tema, sendo que na primeira falaremos dos Forais, das suas origens e causas, da sua importância territorial e até militar, e das circunstâncias que levaram ao aparecimento dos Forais Manuelinos. Na segunda, trataremos especificamente o Foral da Maia em termos documentais, históricos, antropológicos e geográficos.
José Maia Marques
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5 de maio. Aspetos particulares da Maia
Inserido na temática “Terra da Maia”, no próximo dia 5 de maio, pelas 15 horas, um grupo de trabalho da CUMA vai apresentar o estudo da vida e obra de Augusto Simões Ferreira da Silva, o Homem da lavoura e o defensor de causas sociais, na sede do Clube: rua Adriano Moreira dos Santos, 84, urbanização do Chantre, Maia. Dado o interesse e oportunidade do tema, contamos com a presença de todos. Ana Alice Cunha, Laura Mora e Lourdes Graça
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12 de maio. O namoro à carreira
A temática em análise é um trabalho que se prende com o Património cultural oral. Era diversão dos finais do século XIX, na Maia e, certamente, noutras localidades do litoral. Além da vertente lúdica tinha uma procura de namoro que aumentasse o Património da lavradeira casadoira e nunca o diminuísse A designação era namoro à carreira ou namoro à bicha. (careira e bicha tinham o mesmo significado). Os pretendentes colocavam-se uns a seguir aos outros, em tudo semelhante à disposição das pessoas quando pretendem adquirir algo, esperando a sua vez, neste caso, a vez de um diálogo amoroso. Havia intervenientes específicos: o pai da menina casadoira; por vezes a mãe, o chegador, inculcado ( não sabemos se tinham em vista receber algum dinheirinho). Manuel Gens, na obra: Antologia do Douro Litoral, os meus caminhos, p. 54 ao falar da presença dos progenitores da moça casadoira diz que …
Enquanto as filhas namoravam, os pais encostavam-se a uma árvore, ou sentavam-se a contar os moços ( que às vezes somavam dúzias) e no dia seguinte, lá na terra, faziam alarde e vangloriavam-se da respetiva quantidade(…) Outras vezes, o pai ia dar uma volta à romaria, ou ver a feira do gado, enquanto a mãe ficava junto da filha e por vezes metia conversa com os namorados, a saber quanto levavam de dote, quantas pipas de vinho tinham, quantos campos ou bouças, ou alqueires de milho, as juntas de bois, as leiras e as vacas leiteiras, etc. …e se a rapariga voltava as costas a qualquer pretendente, este dava-lhe logo uma chapada~~ Esta curiosidade de pancadaria vamos encontra-la, de forma mais explicita na obra de Camilo. Vamos então ver como era namorar à carreira em verso: -
26 e 27 de maio. Mogadouro – Terra dos Templários; tradições e valores Patrimoniais.Miranda do Douro - Património
Programa Dia 26 e 27 de maio
Castelo de Mogadouro
Dia 26 – Mogadouro
7.30 - Saída de autocarro, junto da Igreja Nossa Senhora do Bom Despacho- Maia
Paragem técnica em Vila Real.
11.30 – Chegada a Mogadouro e início das Visitas Culturais
13.00 - Almoço no restaurante “O Lareira”
14.30 – Continuação das visitas:
- Sala Museu de Arqueologia
- Igreja do Convento de S. Francisco
- Pelourinho e Igreja da Misericórdia
- Castelo
- Igreja Matriz
- Solar de Dom António de Sousa, Bispo do Porto
- Largo Trindade Coelho20.00 – Jantar livre
Dormida no Hotel Cabeço do Forte – Miranda do Douro
Catedral de Miranda
Dia 27 – Mogadouro
Miranda da Douro – Conhecer Miranda do Douro
10.00 – Visita Guiada ao Casco Histórico da cidade. Rua da Costanilha
Os judeus A Catedral de Miranda e o Menino Jesus da Cartolinha
15:00 - Regresso à Maia
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17 de junho. O Mosteiro de Moreira e os 400 anos da sua Igreja
No dia 17 de junho, o Clube UNESCO da Maia, CUMA, realizou um evento comemorativo dos 400 anos da Igreja do Mosteiro de Moreira da Maia. Os temas constam do cartaz que segue. em anexo. Iniciaram-se os trabalhos com apresentação do Dr. Rui Menezes (Técnico Superior do Gabinete de História da C.M.Maia)
História(s) que se cruzam do Mosteiro de Moreira
“O atual edifício da Igreja do Divino Salvador de Moreira foi “inaugurado” em 1622, no dia 3 de maio, dia da festa da Invenção da Santa Cruz. Conta-se que em 1758, na festa do Santo Lenho concorriam as 52 freguesias do concelho da Maia. A sua celebridade e as pessoas de maior distinção procuravam ser juízes da festa. Quase um século depois, o Mosteiro de Moreira foi extinto e anexado ao Convento de Mafra. Seguiu-se a venda em hasta pública do edifício do Mosteiro e as suas terras. O mosteiro encontra-se classificado como Monumento de Interesse Público desde 2012. Em maio de 2022 comemoraram-se os 400 anos da Igreja do Divino Salvador. Mas existe muito mais Mosteiro e muitas histórias que contribuíram para o espaço que hoje conhecemos. Se falamos do Mosteiro e da Igreja, não podemos esquecer a Quinta pois os três espaços formam um território onde o religioso se mistura com a arte, a literatura, a política e a história. Nos últimos 200 anos, uma família e várias gerações de homens ilustres marcaram o espaço que rodeou o Mosteiro. Falamos do jornalista, político e orador parlamentar - José Estêvão Coelho de Magalhães, o seu filho – escritor e político, Conselheiro Luís de Magalhães e o neto, o soldado - José Estevão. Saibamos explorar o seu potencial documental, preservar o património arquitetónico, histórico e religioso, potenciar a sua localização privilegiada no contexto dos Caminhos de Santiago, de forma a honrar o esforço e memórias de todos os que contribuíram no percurso multisecular do Mosteiro”.
Rui Teles de Menezes
Maria da Luz Nolasco (Doutorada em Artes dos Media Conservadora do Museu de Aveiro - Santa Joana) tratou de forma pormenorizada a gramática do Barroco, após a contextualização temporal do monumento.
O Mosteiro / Igreja de S. Salvador de Moreira da Maia
O estatuto de mosteiro/igreja mais antigo da diocese do Porto advém do facto comprovado da sua existência no ano de 832. Estamos, por esta razão, no mais antigo mosteiro de todos os da Ordem dos Cónegos Regulares de Santo Agostinho na província de Entre Douro e Minho. A classificação como Monumento de Interesse Público ocorreu no ano de 2012. No ano de 1060, o Mosteiro transitou de Gontão para Moreira da Maia: “... por vontade dos seus padroeiros Tructezindo Gomes e Dona Gontinha, tendo o abade D. Mendo transferido o mosteiro para Moreira, o qual tomou a invocação do Divino Salvador”. A relíquia do Salvador, dita do Santo Lenho, é desde tempos ancestrais motivo agregador de devoção. Silenciada durante séculos, foi recuperada no local da velha pedra de ara do altar da Igreja Matriz, no ano de 1510. Foi, então, retomado o culto e o prestígio num território alargado, onde as prestações de trabalho, nas terras férteis maiatas, estimularam a sedimentação de colonos na região, e ainda, de devotos na oração. É hoje uma relíquia consagrada e protegida numa cruz de prata dourada com óculo de cristal, onde se integra o Santo Lenho da Cruz de Cristo. Estava guardada no convento de cónegos regulares de Santo Agostinho, em Moreira – Maia, encontra-se ligada ao prodígio de milagres: “é inumerável o concurso de gente que ali concorre (...) experimentando-se continuamente os milagres que Deus Nosso Senhor ali obra, atribuindo-se também à virtude desta relíquia o prodígio de que sendo todas as freguesias circunvizinhas infestadas de muitas víboras, só nesta de Moreira não mordem, nem há memória que ali caísse nunca raio” (J. CASTRO, 1763)
Castro, J.Pedro, Mapa de Portugal, 1763, p. 214
A atual Quinta do Mosteiro, foi a cerca fundada no século XI. Este território permitiu ao Mosteiro fomentar a agricultura e o seu desenvolvimento, ensinando e promovendo o enraizamento das populações. Ou seja, foi neste mosteiro também utilizada uma fórmula de contratação fundiária justa, com mútuos benefícios, que permitia ao agricultor a posse do prédio durante um prazo longo, de uma vida ou três vidas ou a prazo perpétuo, em troca de uma renda, ou foro anual, ou dito de enfiteuse, aforamento ou emprazamento, uma forma de valorização da agricultura. No ano de 1562, uma nova fase, a união à Congregação de Santa Cruz de Coimbra. Em 1834 com a extinção das ordens religiosas, ´Parte deste património é vendido em hasta pública, tendo Sª. D. Rita de Moura Miranda de Magalhães, mulher do parlamentar José Estevão, adquirido a cerca da quinta, por 30 contos, passando a residir aí com os três filhos. Desta ilustre família distinguiremos o conselheiro Luís de Magalhães que trouxe alma e saber a este lugar e a esta quinta.
O património artístico da Igreja de Salvador - o retábulo da capela-mor
A localização dos retábulos esteve diretamente relacionado com a realização dos eventos litúrgicos. Às comunidades monástico-conventuais, paróquias e irmandades ou confrarias que administravam templos autónomos impunha-se a construção do retábulo principal na capela-mor.
In Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian
Madeira entalhada e predominantemente dourada
1676O Retábulo principal da igreja conventual de São Salvador, datado de 1676, Barroco Nacional, está situado na parede fronteira à porta principal da Igreja e é em madeira entalhada, predominantemente dourada. Integra grande tribuna ou Camarim com trono escalonado, peça muito usada a partir dos meados do século XVII nos retábulos principais, sendo destinado à exposição solene do Santíssimo Sacramento. O exemplo pioneiro pode ter sido o da Capela-mor da igreja do Convento de Salvador de Moreira da Maia, de Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, conforme se verifica num Relatório de 1732: “… foi esta tribuna a primeira que de talha houve nesta Província” (BRANDÃO, 1984, p. 434.) A ordem arquitetónica é inovadora nas colunas com fuste espiralado, serpenteado de ornatos vegetalistas c/ flores envolvendo em espiral as colunas. A Planta é mandada vir de Lisboa. O entalhe é de Jerónimo da Costa, mestre portuense ou de Damião da Costa, natural de Braga (BRANDÃO, 1984, pp. 432 a 439). O Arco triunfal, dignifica o espaço da Igreja, ergue-se, no início da nave central, partindo da capela-mor, na parede do frontispício junto ao arco triunfal, uma composição englobante da arquitetura da Igreja. Inovador e menos usual é o frontispício da nave da Igreja do Salvador ser preenchido por uma composição unitária de pedraria, incorporando o arco triunfal e os retábulos colaterais, estes últimos de madeira entalhada. A Igreja Conventual do Divino Salvador, em Moreira da Maia é, assim, o exemplar mais grandioso desta tipologia.
Órgão Histórico (de tubos), de fabrico alemão, do mestre organeiro Arp Schnitger, construído em 1701. Órgão com 12 registros, dois teclados e um fole
A segunda parte do evento personalizou três notáveis da Quinta do Mosteiro: Luís de Magalhães, sua mãe, Dona Margarida Rita de Moura Miranda e Maria da conceição Coelho de Magalhães, esposa. Fez-se um percurso pelas ruas a que foram atribuídos os seus nomes, tendo os associados Lourdes Graça e Gabriel Gonçalves proferido, no local, uma síntese biográfica. Sobre Luís de Magalhães, Lourdes Graça enfatizou a relação do ilustre com a geração de 70.A Quinta foi, ao tempo, lugar de encontro de muitos notáveis, amigos de Luís de Magalhães. Particularizou duas personagens: Guerra Junqueiro e Eça de Queirós. Lembrou a Quinta de Refaldes, da autoria de Eça, descrição da Quinta. Referiu a troca de correspondência entre Dona Emília, viúva de Eça e Luís de Magalhães, a propósito da edição dos “Contos”, após a morte do autor. Referiu-se depois aoilustre Republicano, Guerra Junqueiro ainda pormenores interessantes sobre a reedição da Pátria, bem como a generosidade e altruísmo de Junqueiro, aquando do desaire de “A Monarquia do Norte”. O associado Gabriel Gonçalves fez uma resenha histórica sobre os feitos de duas Senhoras da Quinta do Mosteiro. Dona Rita de Moura Miranda contraiu matrimónio com o ilustre deputado e orador, José Estêvão Coelho de Magalhães, a 7 de junho de 1858, na freguesia da Sé, Porto. Passou a viver na Quinta do Mosteiro que havia sido vendida à família Vieira de Castro e, posteriormente, adquirida por Dona Rita, pela quantia de 30 contos, segundo dados de Joaquim Antunes de Azevedo. Teve forte e decisiva intervenção no afastamento do cemitério de Moreira da Maia, da área da Quinta do Mosteiro. Dona Maria da Conceição Coelho de Magalhães contraiu matrimónio, a 21 de fevereiro de 1884, com o Conselheiro Luiz Cipriano Coelho de Magalhães (1859-1935) na Paróquia de Cedofeita, Porto. Após o casamento, muda de residência para a Quinta do Mosteiro, em Moreira da Maia. Maria da Conceição é reconhecida como uma das mulheres percursoras da fotografia em Portugal. Nas palavras de António Sena “Maria da Conceição Lemos de Magalhães é um caso raro, até 1940, de uma mulher ligada à fotografia em Portugal [além de Madame Fritz, 90 anos antes]. Esclareça-se que a sua atividade se desenvolveu desde 1905 até cerca de 1915, e que não se limitou ao simples disparo de uma máquina. Pelo contrário, interessava-se pelo seu tratamento laboratorial e dedicava-se ao estudo da química fotográfica. As proximidades com a obra pictórica de uma sua contemporânea, Aurélia de Sousa (1866-1922), não são também improváveis (…). As imagens contaminam-se.”. Fotografias publicadas:
- Interior da Aldeia: Sena, 1998, pp. 194;
- Efeitos de nuvem: Sena 1998, pp. 207;
- Na Eira: Sena 1998, pp. 217.Revista Ilustração Portuguesa, n.º 222, de 23 de maio de 1910, página 656
José Gabriel
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10 de julho. Maia Hoje - Feriado municipal, Festas do Concelho e da Feira do Livro da Maia