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Alfabetismo e abandono escolar

Alfabetização e ensino durante e depois da crise do Covid-19 à luz do objetivo 4ºda agenda 2030 da ONU e Unesco.

Objetivos principais

Melhorar a compreensão do impacto da crise do Covid-19 sobre o ensino e aprendizagem da alfabetização dos jovens e adultos
bem como dos educadores.

Sensibilizar para a necessidade de reforçar a ligação aos educadores e à sua profissionalização na promoção da alfabetização dos jovens e
adultos, tendo em vista a realização do artigo 4º da Agenda 2030 na sua totalidade.

Produzir e partilhar novos conhecimentos ligados aos educadores e seu desempenho, à formação inicial e contínua e aos métodos de ensino e
suas pedagogias.

Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos.

Estas alíneas têm cabimento no Objetivo 4 da Agenda 2030 da ONU de que vamos referir alguns itens:

Garantir que todas os meninos e meninas completem o ensino primário e secundário que conduza a resultados de aprendizagem relevantes e
eficazes e com acesso a um desenvolvimento de qualidade na primeira infância, cuidados e educação pré-escolar, de modo que estejam prontos
para o ensino primário.
Assegurar a igualdade de acesso para todos os homens e mulheres à educação técnica, profissional e superior de qualidade, a preços
acessíveis, incluindo universidade e adquiram conhecimentos e habilidades necessárias para promover o desenvolvimento sustentável, inclusive,
entre outros, por meio da educação para os estilos de vida, direitos humanos, igualdade de gênero, promoção de uma cultura de paz e não violência,
cidadania global e valorização da diversidade cultural e da contribuição da cultura.

A UNESCO no seu acto constitutivo de 16 de novembro de 1945 considera inquestionável a declaração de todos os estados signatários,
segundo a qual se garante a todos o pleno e igual acesso à educação e à livre permuta das ideias e dos conhecimentos.
Definia-se assim a nível político e universal o que muitos estados já tinham consignado nas suas Constituições.

Com o propósito de fomentar a alfabetização nos vários países, a Organização das Nações Unidas (ONU) e a UNESCO instituíram a data de
8 de setembro em 1967para realçar a Universalidade da Alfabetização.

O processo da aprendizagem de ler e escrever (alfabetização) está diretamente relacionado com o desenvolvimento de um país, conforme
indicam pesquisas na área. Quanto mais pessoas analfabetas, menor é o índice de desenvolvimento.

Por esse motivo, nas últimas décadas vários países têm assumido o compromisso de combater o analfabetismo.

Atualmente, a alfabetização atinge cerca de 85% da população mundial, de acordo com dados da ONU.

No entanto, estima-se que ainda existem quase 800 milhões de adultos que não sabem ler, escrever ou contar, e aproximadamente 250
milhões de crianças consideradas analfabetas funcionais (não conseguem interpretar os textos).

O objetivo não é apenas alfabetizar, mas fazer com que os jovens e adultos saibam interpretar um texto criticamente e que desenvolvam
o prazer da leitura.

Claro que a alfabetização deve ser a porta aberta para a educação permanente e a educação para todos e para toda a vida. (Jacques Delors,
Edições Unesco) enfatizando os 4 pilares educativo de que falaremos mais adiante.

Consideremos ab ovo os seguintes itens:

Uma visão histórica-semântica da escola

Etimologicamente escola (σχολη) significa o prazer resultante da actio contemplativa que pressupõe
um universo considerado como κοσμοσ ou mundus cujo antónimo é immundus.

Posteriormente a escola torna-se sinónimo de lição e, por metonímia, o lugar onde se processa a lição.
σχολη relaciona-se com o otium, ou seja, com o lazer, isto é, com as classes sociais que tinham
classes de trabalhadores a trabalharem para si.

Por isso fazer escola (σχολην αγειν) é sinónimo de não trabalhar nas
atividades dos bens de consumo. Ainda hoje, para muitos, estudar não é trabalhar.

Quer nos centremos no conceito de que a palavra educação provém do étimo latino educare que significa dirigir, conduzir, semanticamente
relacionado com pedagogo (aquele que conduz, orienta o menino, ou seja, o aluno),

Quer se admita que o étimo provém de educere, ou seja tirar de dentro para fora, trata-se também de uma viagem que começa no sujeito e
nele termina. É um tipo diferente de ensino a chamada Escola Nova em que se acentua o processo de aprendizagem mais que os seus conceitos.

Não vamos teorizar sobre estas questões, mas devemos ter presente que a Escola Tradicional trabalha ainda para reproduzir a sociedade
existente, quando ela muda muito rapidamente. Isto significa que muito do que se ensina na escola não tem aplicação na sociedade actual,
ou seja, não há isomorfismo entre o currículo escolar e o mundo social incluindo o laboral.

É, pois, função da educação ser permanente, preparando os alunos para um futuro que ainda não existe. Daí o considerarmos que a educação
tem de aliar-se à tecnologia, à inovação e ao universo do conhecimento.

Sistematização da escola

Houve ao longo dos tempos etapas decisivas na criação, ordenação e implementação da escola como membro de um sistema nacional de Educação.
Vamos considerar alguns dados considerados relevantes.

O curriculum “Dentes de Sabre” mostra como as aprendizagens deixam de corresponder às necessidades reais e como estas obrigam a mudar aquelas.
O curriculum “Dentes de Sabre” é uma sátira muito relevante extraída de Benjamin,H. (1977). The curriculum: context, design and development.
Edinburgh.

Revela-se como e quem construiu o primeiro currículo escolar, tendo por fundamento o imperativo de responder às necessidades de sobrevivência
da tribo, construindo e ensinando a construir três armas de caça muito importantes para a sobrevivência de todos.

Depois de muitas resistências dos religiosos que argumentavam que se o Grande Mistério quisesse que as crianças praticassem as três disciplinas
em vez do adulto ter-lhes ia dado dotes inatos para a sua aprendizagem e por isso não precisavam de ensino

Com o tempo, porém, o currículo foi aceite, mas também com o tempo as circunstâncias alteram-se significativamente a tal ponto que o currículo
escolar se tornou perfeitamente inútil para a vida da tribo.

A sociedade ou os mais dotados da mesma propuseram o ensino de práticas que eram utilizadas, mas não faziam parte do currículo escolar.

Aqui a luta foi dos intelectuais, segundo os quais a educação é eterna e por isso nada muda. A escola não tem nada que ensinar a sociedade no
âmbito do trabalho.

Dicotomia que tem aparecido ao longo do tempo e mesmo nos dias de hoje.

Novo Punho viu admitido como currículo da escola a Apanha de Peixe À mão, a Cacetada nos cavalos Peludos e o Afugentamento de Dentes de Sabre
pelo fogo contra a vertente religiosa.
Mais tarde, alteração do meio ambiente forçaram alterações do currículo para garantir a sobrevivência
da tribo. Aí os intelectuais opuseram-se.
Tem sido sempre assim e continua a ser. É que o currículo é a mola real do ensino com forte propensão para a estabilidade.

Comunicação

A história da comunicação é cumulativa: cada nova linguagem, cada novo medium que Emerec criou no decurso dos tempos, juntou-se aos outros,
aumentando assim a sua capacidade de comunicação. ( Jean Cloutier, A Era de Emerec, Instituto de tecnologia Educativa, Lisboa 10-21).

No entanto, longa é a evolução e o acesso a um novo modo de comunicação é difícil e trabalhoso, pois é bem verdade que cada um deles
transforma progressivamente Emerec.

Desde que o homem adquiriu a linguagem, ele próprio determinou as modalidades da sua evolução biológica, sem disso ter, necessariamente,
consciência. O que era verdade para a linguagem verbal era verdade para todas as outras formas de linguagem dificultando a entrada na
aldeia planetária de Mac Luhan, hoje muito pertinente em tempos de Corona Vírus.

Segundo Jean Cloutier, há vários tipos de linguagem, vários episódios que devemos indicar, dada a sua importância na educação e nos vários
tipos de escola.

Define um paradigma de comunicação com 4 episódios determinantes na história da educação.

A) Comunicação interpessoal, in praesentia a que corresponde a educação baseada na exteriorização. Esta comunicação em presença é
importantíssima como se vê e sente em tempos de corona vírus As aulas presenciais.
B) Comunicação de elite, ou seja, das linguagens de transposição, como o desenho, o ritmo, a música e sobretudo a escrita. a
que corresponde a educação de elite. É a amplificação que começa com a imprensa e se desenvolve até ao satélite.
C) Comunicação individual com o desenvolvimento, a técnica moderna permite a todos o acesso à gravação de sons e de imagens acessíveis
a todos, fornecendo ao homem novas linguagens, e novos media tornando-se individuais. São os chamados self-media. O homem passa a ser
o ponto de partida e de chegada da comunicação. Ele deixa de ser informado e passa a informar e a informar-se.
D) Emergência do alfabeto e por isso a do analfabeto. Os que sabem ler, escrever e somar e os outros e a longa luta para que todos
possam aprender. A escola de massas.

A enorme importância da educação

A educação tem papel fundamental no desenvolvimento das pessoas e das sociedades
Alguns dados que caracterizam os tempos modernos, ou seja, o nosso tempo.

Quem ensina?
Ensinar é uma arte e uma ciência. O processo pedagógico é uma relação entre o professor e o aluno que exige a definição
clara do estatuto de cada um dos intervenientes melhorar as condições de trabalho do pessoal docente com profissionalismo, competência e dedicação.
Ensinar o quê?
Conteúdos, mundialização, globalização. Há competição entre os conteúdos escolares e os da comunicação social.

Quem aprende?
Há alunos que passam mais horas em frente à tv. que na escola.
Relevar o estatuto do aluno bem como o do professor pois eles são as pedras angulares de todo o sucesso educativo.
Aprender o quê?
Em primeiro lugar, aprender a conhecer.

É o ponto de partida da educação, tendo como modelo v.g. a taxonomia de Bloom (memorização, compreensão, aplicação análise,
síntese e avaliação).
Mas, tendo em conta as rápidas alterações provocadas pelo progresso científico e as novas formas de atividade económica e social,
há que conciliar uma cultura geral suficientemente vasta, com a possibilidade de dominar, profundamente, um reduzido número de assuntos.

Esta cultura geral constitui, de certa maneira, o passaporte para uma educação permanente, na medida em que fornece o gosto e as bases
para a aprendizagem ao longo de toda a vida. Aprendizagem para rapazes e raparigas, abertura de conhecimentos para outras linguagens.

Em segundo lugar, aprender a fazer consiste essencialmente em aplicar na prática os seus conhecimentos teóricos e saber comunicá-los.
Em 3º lugar aprender a viver com os outros. É um dos maiores desafios do educador já que se insere na área das atitudes e dos valores.
Abrange o combate aos conflitos, aos preconceitos, à rivalidade, às lutas na escola entre alunos. É o veículo da paz, a participação
nos projetos comuns, o conhecimento do outro. É a educação como veículo da paz (um dos paradigmas da Unesco).
Em 4º lugar aprender a ser Este é o tema dominante do relatório Edgar Faure, publicado em 1972 sob os auspícios da UNESCO. A educação
deve ter como finalidade o desenvolvimento total do indivíduo, visa o seu desenvolvimento individual, a busca da sua autonomia, os
valores, os sentimentos, a liberdade de pensamento. viver consigo mesmo e em segundo lugar com a sociedade, os quatro tipos fundamentais de educação.

Aprender a ser Homem, a ser si próprio e, finalmente, a ser feliz são as metas deste pilar na vida de cada indivíduo.
Educação para todos

Todo o indivíduo deve ter a possibilidade de aprender a vida inteira. A ideia de educação permanente é a pedra angular da cidade
educativa e do texto “Aprender a Ser”.

Um sistema educativo global e aberto facilita a mobilidade horizontal e vertical dos alunos e multiplica as possibilidades de escolha.
Educação para toda a vida. Educação para todos, para a cidadania, para a arte e para a saúde.
Educação e inovação. A cidade educativa.
Educação versus novos conteúdos.
A educação e formação contínua. Não há formação que valha para toda a vida, na medida em que o que hoje é verdade, amanhã pode não ser.

Tensão da Aldeia Global e saber viver.

A concluir o presente trabalho gostaria de relevar quão difícil é o processo educativo num mundo em trabalhos de globalização.
Tensão entre o mundial, o regional e o local. Tensão entre o universal e o particular.
Tensão entre a tradição e a modernidade. Tensão entre o longo e o curto prazo. Tensão entre competência e igualdade de oportunidades.

Tensão entre o material e o espiritual. Tensão entre o avanço explosivo dos novos conhecimentos e a capacidade humana de os assimilar. (Delors)

Raul da Cunha e Silva