Sonho é um conjunto de ideias e de imagens que se apresentam ao espírito durante o sono. São tão antigos como a própria humanidade, ou
mesmo anteriores, porque se pensa que os animais também sonham…
A polissemia da palavra sonho permite-nos afirmar uma multiplicidade de significados como: aspiração, desejo vivo, utopia, imaginação/criação
de mundos imaginários que podem ser considerados como uma aproximação às marcas da superstição, (magia, presságios, bruxaria…).
Podem ser conceitos pessoais e ocasionais que ocorrem ao longo da vida, alvos preferidos da literatura. Sonhos acordados que se identificam
com aspirações, projetos de vida, programas…
Há, porém, outras visões do sonho que iremos abordar.
Desde os tempos primordiais, os sonhos eram um dos meios oficialmente previstos para dar a conhecer a vontade divina ou a comunicação
dos que partiram da vida.
Os antigos chineses sustentavam que os sonhos eram visitas que as almas dos mortos faziam aos vivos.
Para os egípcios, os sonhos eram mensageiros enviados pela deusa Isis dando conselhos e fazendo advertências.
Para os caldeus o sonho era uma advertência sobre o bem e o mal que os esperava. Só um dom divino e uma alta ciência permitia compreendê-los.
Toda a história da antiguidade refere a explicação dos sonhos,
pelos sacerdotes nos templos ou por pitonisas como a Pitonisa de Delfos.
Sobre esta temática encontramos abundante material de estudo na literatura.
Na latina recordemos O sonho de Cipião (Cícero, De Republica, VI,9-29).
O Sonho de Cipião Emiliano ocorreu durante uma visita a Masinissa, rei da Numídia, Emiliano foi recebido festivamente pelo rei, e após um
banquete de longas horas recordando os feitos e virtudes de Cipião Africano. Retirou-se cansado para seus aposentos e cai logo no sono,
durante o qual tem um sonho em que lhe aparece- o Africano, profetizando para o neto uma vida cheia de dificuldades na família e na carreira política.
Na literatura grega vamos trazer à colação 3 textos:
Odisseia. IV,837
Telémaco e Pisístrato chegam à Lacedemónia, terra de Menelau. Após narrar seu retorno de Troia, diz que ouviu do Velho do Mar, Proteus,
que Odisseu ainda estaria vivo em uma ilha. Em Ítaca os pretendentes planeiam matar Telémaco durante o seu regresso. Atena aparece em um
sonho a Penélope na figura de sua irmã, Iftime, para acalmá-la. Ilíada, I,63)
Os sonhos eram avisos que procediam diretamente das divindades Júpiter envia um sonho a Agamémnon, mandando armar os Gregos, e prometendo-lhe
a vitória antes do fim do dia.
Tragédia de Édipo Rei, de Sófocles
Laio, rei de Tebas é avisado por um oráculo de Delfos do nascimento de um filho que mataria o pai e casaria com a mãe (o oráculo é a resposta
de uma divindade às perguntas que lhe faziam. As respostas podiam ser dadas por sinais, sacerdotes, pitonisas ou sonhos).
Para evitar esta tragédia, Laio manda levar o menino de pés atados (Édipo) para o monte.
Passavam por aí uns pastores que o levaram para Corinto, tendo sido adotado pelos reis da cidade.
Sabendo da maldição que impendia sobre si, foge de Corinto e dirige-se a Tebas. No caminho e numa encruzilhada de 3 caminhos luta com um grupo
de pessoas matando uma que era Laio, seu pai. Estava cumprida a primeira parte do oráculo de Delfos.
Ao entrar na cidade uma esfinge barrou-lhe o passo pondo-lhe uma pergunta que se não respondesse seria morto.
-Qual o animal que em criança anda a quatro, na idade adulta a duas e na velhice a 3?
-É o homem.
Acertando na resposta, libertou a cidade de semelhante monstro e cumpriu a 2ª parte do oráculo de Delfos
Em compensação casou com a rainha Jocasta que era viúva. Cumprida a 3ª maldição, depois é a tragédia.
Na Bíblia são muitas as situações de sonhos. Parece que há um vaivém entre o Céu a Terra indiciado pela escada de Jacob (Génesis, XXVIII,12,13.
Jacob teve um sonho: viu uma escada apoiada na terra, cuja extremidade tocava o céu e, ao longo desta escada, subiam e desciam mensageiros de Deus.
Por cima dela estava o Senhor que lhe disse:
“Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão, teu pai, e o Deus de Isaac Esta terra em que te deitaste dar-ta-ei assim como à tua posteridade”.
Os sonhos bíblicos podem dividir-se em 3 classes:
Naturais, de origem divina, históricos Naturais:
o sonho por exemplo da mulher de Pilatos atormentada com a prisão de Jesus “Não te embaraces com
a causa desse justo, porque hoje em sonhos foi muito o que padeci por seu respeito” (Mat.XXVII,19).
De origem divina: os sonhos eram um dos meios para dar a conhecer ao homem a vontade divina em determinados casos.
Sonho de S. José (Mat.I,19-25
Sonhos históricos são frequentes na Bíblia GénesisXX,3 “Deus, porém, apareceu em sonhos a Abimalec, durante a noite e disse-lhe:
-vais morrer por causa da mulher que raptaste, visto ela ser casada”.
Na Bíblia o sonho era um meio de Deus falar com os homens
Explicação dos sonhos
Tem sido preocupação entre os povos primitivos como entre os mais cultos a explicação dos sonhos
Dificuldade em explicar a origem da imagem e o sentido oculto das palavras, dai o aparecimento de seres superiores que sabiam ler e interpretar os
sonhos. As pitonisas, como a célebre Pitonisa de Delfos, as sibilas que interpretavam os oráculos dos deuses.
Há estudos, livros que tentam uma explicação; há explicadores encartados uns, clandestinos outros, uns oficiais outros não.
Para Freud o sonho é um desejo recalcado, isto é não satisfeito.
O sonho é a voz do inconsciente que a psicanálise estuda, gravitando á volta das forças eróticas recalcadas.
A natureza e o mecanismo genético do sonho estão em relação com desejos não realizados e com factos sociais diversos
Raul da Cunha e Silva