Ao abordar o Dia Mundial da 3ª idade (28 de outubro) recordo “As Idades do Homem”, famoso estudo de Louis Heller que refere os passos do homem,
desde o seu nascimento (ou mesmo antes) até ao fim, percorrendo na sua viagem as várias etapas e solucionando os seus problemas específicos.
Desde o início, ao longo dos tempos e por necessidade de sobrevivência, foi o homem resolvendo os problemas fundamentais dos seus filhos que hoje
podemos considerar solucionados. Para o fim ficaram os do fim, ou seja, os da 3ª idade, isto é, os dos pais que os filhos ainda não souberam ou
puderam resolver.
Vale a pena trazer à colação a lenda dos idosos dos tempos idos, segundo a qual era costume os filhos levarem os pais que estavam velhos ao monte
para lá morrerem abandonados.
Certo dia, um homem que levava o seu pai às costas, rumo ao alto de um monte, deitou-o e cobriu -o com uma capa,
afastando-se em-seguida.
Passado pouco tempo, ouviu o seu pai chamar por si. Voltou para trás e viu-o triste a rasgar a capa ao meio, dizendo-lhe:
– Filho, toma esta parte. Metade chega para mim. A outra será para ti, quando fores velho e os teus filhos te trouxerem para aqui.
Arrependido, o filho pegou no pai e trouxe-o novamente para casa.
Assim terá terminado o costume de levar os pais para morrer abandonados no monte.
Mas foi muito longo esse tempo.
Convém recordar a situação ambivalente dos idosos que foram considerados inúteis e um peso para o grupo social, num primeiro período da história
da humanidade e mais tarde sinónimo de sabedoria, de experiência e de consideração.
” Respeitemos as idades nas suas quedas e o tempo na sua voracidade” dizia Cícero.
Contudo, nos últimos tempos, a 3ª idade começa a ser um problema, ainda não resolvido com um regresso (real ou aparente) aos tempos primordiais.
A violência contra idosos patente nos órgãos de comunicação social é horripilante e pode ter várias formas desde a morte às mãos de filhos a
crimes variados.
Consideremos alguns exemplos:
Violência Física
Violência Psicológica
Violência Sexual
Violência Doméstica
Violência Financeira.
Abandono
Cada uma destas violências reveste-se de muitas e variadas formas. Dado o realismo de certas narrativas, abstemo-nos de referir situações desse tipo.
Certos lares não podem ser considerados refúgio de idosos, dado o número de mortos às mãos do Corona Vírus e de outras patologias.
Mas a existência de lares evoca por associação os jardins de infância e as creches. É o alfa e o omega. Uns e outros são necessários, devem, porém,
estar à altura das suas responsabilidades.
É que, as pessoas que deram a sua vida pela sociedade, verdadeiras bibliotecas vivas, não podem ter um fim de vida tão triste e criminoso.
Nenhum ser humano pode estar numa situação destas.
Há que aproveitar as experiências e a aprendizagem ao longo da vida, criando políticas de proteção social com acesso à cobertura universal de saúde.
Dizia o filósofo Tito Plauto (século I a. C.): ninguém quer morrer novo, ninguém quer ser velho. Então como é?
Raul da Cunha e Silva