O século de Péricles (V – IV a C) foi um dos períodos mais brilhantes da Grécia antiga (Atenas) na política, na arte, na filosofia, na democracia,
na justiça, na educação, na liberdade cívica e transformações sociais. O calós kai ágatos , ou seja ,o belo e o bom identificavam-se assim como,
na sociedade, o interesse, a honra e o medo.
Trazemos à colação este tempo, porque Péricles, um dos maiores estadistas de todos os tempos morreu de epidemia em 429 a.C. há apenas 2500 anos.
Percorrendo esse tempo, chegamos aos nossos dias ao seio da corona vírus.
Em primeiro lugar, tempos de medo que se vai instalando na sociedade, impondo o confinamento, o isolamento social, o distanciamento, perturbações
na saúde individual, mental e pública, no mundo do trabalho, do emprego e da economia, na convivialidade e na morte.
O “fique em casa”, o não poder ir trabalhar ou estudar, a ausência dos amigos a impossibilidade de reuniões e de convívios, o medo de perder o
emprego e a ruína das suas economias, a ameaça da fome e o medo da morte.
A rotina alterada, a ausência de pessoas queridas, a perda da autonomia e da liberdade de decidir ficar ou não em casa e, principalmente, a grande
incerteza do futuro.
Podemos questionar se as medidas que nos vão impondo, como o isolamento total ou parcial, o uso ou não de máscara, o distanciamento social ou não,
as quarentenas são necessárias ou suficientes.
Num ponto todos estamos de acordo: vivemos o tempo da prudência, do medo, do pavor conforme as situações e as pessoas.
A Honra.
Péricles recorda-nos que não podemos esquecer a Honra que existe na sociedade.
A Honra dos que lutam: médicos, enfermeiros, hospitais que lutam até ao limite das sua forças para salvar a vida do seu semelhante, professores que
têm umo papel crucial ao serviço de uma educação inclusiva e de qualidade, funcionários, empresários, agricultores, instituições e clubes, todos
quantos lutam para manter em funcionamento a sociedade.
Finalmente na retórica de Péricles o interesse. A sociedade funda-se no interesse comum e privado de todos os seus membros. É que, segundo Aristóteles,
o “Homem é um animal sociável”. Por isso, o Interesse é de todos, porque no meio do medo, todo lutam pelo interesse de cada um e implicitamente de
todos. Há, portanto, uma relação entre deveres e direitos.
Ninguém há que tenha só direitos, ninguém há que tenha só deveres. Em tempos de pandemia, como aliás, em todos os tempos, cada ser humano tem de
interiorizar e viver essa interiorização e combater por ela, ou seja, direitos e deveres são inseparáveis.
Raul da Cunha e Silva