O Clube Unesco da Maia celebrou o dia de S.Martinho no dia 13 de Novembro, em Romariz, Santa Maria da Feira, na casa dos associados
Maria de Lurdes Bártolo e Óscar Bártolo.
De manhã visitámos o Museu de Santa Maria de Lamas e, sobre o assunto, sugerimos a leitura do texto de José Amorim, que neste momento faz
uma pós-graduação em História de Arte sobre o espaço do museu.
” Este espaço museológico situado na freguesia de Santa Maria de Lamas, denominado por Museu de Santa Maria de Lamas, foi designado pelo
seu fundador na década de cinquenta do século XX, o industrial Henrique Alves Amorim, como a sua “Domus Áurea, arquivo de fragmentos de Arte”.
Numa pequena expressão o fundador deste espaço acabou por definir um pouco do carácter da sala 16, ou seja a sala da capela de Delães assim
designada actualmente neste espaço Museológico, o objecto de estudo deste ensaio científico, onde de facto existe a exposição, colocação e
apreensão de conceitos e fragmentos artísticos (neste caso talha dourada) de um espaço de uma capela privada da freguesia de Delães. Um dos
espaços onde Henrique Amorim resgata fragmentos de arte, como ele próprio designa que neste espaço ganham novo conceito de existência em
relação à sua forma e função.
Cronologicamente, a fundação deste espaço museológico situa-se entre a década de cinquenta do século XX, respondendo assim ao gosto pelo
coleccionismo que o seu fundador o referido Henrique Amorim possuía. Construído de raiz para albergar todas as obras de arte e elementos
que reuniu ao longo da sua vida este espaço apresenta uma arquitectura que remonta aos espaços civis e religiosos típicos da arquitectura
vernacular portuguesa no inicio do século XX.
O espólio deste espaço apresenta uma variedade singular, pois o seu fundador segue um conceito iniciado entre o século XV e XVI, e
consequentemente desenvolvido nos séculos seguintes, ou seja a criação de um espaço museológico segundo um gabinete de curiosidades,
onde para além das obras de arte, dos fragmentos artísticos como designa, insere diversos objectos que permitem uma percepção do desenvolvimento
humano e do desenvolvimento do próprio planeta, bem como das principais actividades da história da população portuguesa.
Na sua globalidade o espaço museológico é composto por 16 salas, passando a citar: Sala de Nª Sr.ª do Ó, Sala da Capela, Sala dos Evangelistas,
Sala dos Presépios, Sala dos Oratórios, Galeria do Fundador, Sala da Etnografia, Sala dos Escultores, Gabinete das Ciências Naturais, Pavilhão
da Cortiça, Sala da Cerâmica, Sala dos Crucifixos, Sala dos “Paramentos”, Câmara dos Espelhos e dos Castiçais, Gabinete das Armas e Sala da Capela de Delães.
Nestes espaços encontra-se exposta dividida por diversos núcleos uma variedade significativa de colecções, assim sendo, arte sacra, com talha
dourada, imaginária (de diversas proveniências, obras essencialmente datadas entre séc. XVII e XVIII), pintura religiosa (com destaque para
cópias segundo obras de El Greco no tecto da sala dos presépios), relevos (destacando-se tríptico relevado e pintado datado do século XIV),
medalhística (diversas medalhas assinalando personagens, datas, instituições e momentos da história nacional e internacional), papel-moeda
ou seja notas, (assinalando os principais destinos da emigração portuguesa no inicio do século XX) presépios, (em cortiça virgem e seguindo
o conceito de representação da Natividade criado por Machado de Castro entre o séc. XVII e XVIII) mobiliário religioso ou seja oratórios,
esculturas de imaginária em Roca, objectos ligados às actividades laborais nacionais no inicio do século XX, (miniaturas de barcos típicos,
elementos ligados à agricultura e elementos ligados à actividade doméstica) estatuária, (estudos em gesso executados por escultores nacionais
de finais de século XIX e início do século XX, entre os quais Barata Feyo, Henrique Moreira, Sousa Caldas, Raul Xavier entre outros) elementos
ligados às ciências naturais, (destacando-se os fósseis de trilobites, animais cronologicamente anteriores aos dinossauros) conjuntos
escultóricos executados em cortiça, objectos ligados ao culto cristão, (cruzes e medalhas) peças em marfim, réplicas de mobiliário indo-português,
tapeçarias, (onde se destaca uma colcha datada do século XVIII com bordado a ouro) peças em cerâmica, azulejaria, armas de diversas proveniências
e cronologias, panejamentos litúrgicos, crucifixos, castiçais entre muitas outras colecções em reserva.
Este espaço amplo respondeu assim ao desejo de exposição dos diversos fragmentos de arte e peças consideradas de valor significativo para o
fundador deste espaço, e como tal consciente do valor do espólio e da sua importância o fundador decidiu tornar este espaço acessível para
todos e como tal, o ano de 1959 marca a o ano de 1959 marca a doação deste espaço museológico para a tutela da casa do povo de Santa Maria
de Lamas. Susana Gomes Ferreira conservadora deste espaço museológico no seu estudo intitulado “Descoberta e valorização das colecções do
Museu de Santa Maria de Lamas” cita um excerto da escritura de doação para a casa do Povo:
…Um edifício destinado a museu, com todo o seu recheio, sito no lugar do souto, de Santa Maria de Lamas, ao fundo do parque… Para possibilitar
a melhoria social do meio, no aspecto material do meio, no seu aspecto material, cultural e moral… contemplando a realização de fins culturais
e recreativos consignados pela actual legislação às casas do povo… visando o desenvolvimento do gosto artístico do povo.
Após este ano de fundamental importância para a percepção do desenvolvimento histórico deste espaço, segue-se uma nova data marcante na sua
tabela cronológica, assim sendo o ano de 1977 assinala a morte do fundador e impulsionador deste museu. A sua dita Domus Áurea, acaba por
iniciar em 1977 um período designado como de semi-adormecimento, onde grande parte das salas e das colecções acabam por sofrer agressões do
meio envolvente e das carências do espaço bem como a ausência de zelo ou mesmo a aplicação de processos e substâncias incorrectas no âmbito
da conservação e restauro, neste tipo de obras e materiais”.
José Amorim – Responsável da visita ao Museu de Santa Maria de Lamas
De tarde, cumprindo a tradição, não faltaram as gostosas castanhas assadas acompanhadas de jeropiga, mas antecedidas de um bem confeccionado
almoço, composto por uma abundante e bem portuguesa entrada de afamados enchidos transmontanos e queijo da Serra, entre outras iguarias.
Seguiu-se o “porco à medieval” (maneira muito própria de o preparar) acompanhado por coloridas saladas e depois as sobremesas variadas,
fazendo jus à nossa doçaria.
Mas como o homem, felizmente, é também espírito, não podíamos deixar de aproveitar o convívio para pôr em prática algumas actividades culturais:
a poesia, a música e a dança.
O presidente do Clube, Professor Doutor Raul Cunha e Silva, recordou a génese do clube, precisamente no ano anterior, neste mesmo espaço. Saudou
carinhosamente os associados e incentivou a continuarem a trabalhar para que o Clube Unesco da Maia se torne uma referência para a comunidade.
Depois houve leitura de poemas alusivos ao Outono, tendo como suporte uma sequência de imagens outonais e fundo musical do Concerto de Aranjuez.
Vimos em vídeo o poema de Augusto Gil “Passeio de Santo António”, seguindo-se uma leitura teatralizada deste texto por dois associados. Finalmente
o movimento, o ritmo e a harmonia da dança para todos os gostos.
O convívio teve a animação do casal Normando e Daniela.