No dia 30 de setembro, o Clube UNESCO da Maia organizou uma conferência sobre um tema muito familiar aos maiatos.na Junta da Vila de Moreira
Foi orador da Conferência o associado Hélder Quintas, doutorando em Geografia, pela F.L.U.P. e moderadora a associada Dr.a Lourdes Graça.
Diz o palestrante, numa síntese de introdução à conferência, servindo-se dos registos de Pinho Leal, que A Maia, antigamente, além das freguesias acima
nomeadas, compreendia outras muitas mais, pois tinha por limites as serras de Valongo, inclusive esta vila, e dali pelos arrabaldes da cidade [do Porto]
até ao mar, em Matosinhos, por toda a costa até ao Ave, servindo este de limite até Santo Tirso e daqui para o sul, findando onde principiou, na vila de
Valongo, que nesse tempo ainda não lhe cabia o nome de vila. De modo que o antigo concelho da Maia compreendia cinquenta e três freguesias. Assim o encontro
numa divisão oficial. (…)
Sublinhou a oportunidade do evento, em vésperas de assinalarmos a data simbólica sobre os 500 anos do Foral da Maia (15 de dezembro de 1519 – 15 de
dezembro de 2019), vamos fazer uma viajem através dos mapas que espelham a evolução da configuração da nossa Maia, desde as Inquirições de 1258, passando
pelo Foral da Maia de 1519, pelo Numeramento de fogos de D. João III, 1527, pelos sécs. XVII e XVIII, pelas convulsões do séc. XIX, até às dinâmicas mais
recentes do séc. XX e das primeiras décadas do séc. XXI.
Elencou o nome de algumas freguesias registadas no Foral.
A moderadora, a seu tempo, aludiu aos dados do Padre Antunes de Azevedo, registados em “Memórias de tempos idos” (ed. do Clube UNESCO da Maia, 2015,
pp. 148-149-2º vol).
Com o andar dos tempos, outros concelhos foram cerceando o da Maia, até o suprimir em 1868, indo umas freguesias para Vila do Conde, tais como Aveleda,
Vilar de Pinheiro, Mosteiró, Guilhabreu e julgo que Gemunde; outras para o novo concelho de Matosinhos, tais como Vila Nova da Telha, Moreira, Barreiros e
outras; e as demais freguesias, para Santo Tirso, Gondomar, etc. O que, pela revolta de janeiro, a Janeirinha, daquele ano tornou tudo ao seu lugar, pelo
que os povos da Maia deram palmas por se verem libertados do domínio estranho que, embora não prometesse ser bárbaro, contudo cada um com o que é seu não vai mais mal.
Registe-se o envolvimento dos participantes que se questionaram sobre o desmembramento do concelho, tendo, no momento sido , mais uma vez referidos os
dados do padre Joaquim:
“Não posso deixar de dizer aqui o que se passou por essa ocasião, na Maia, como testemunha ocular que fui. O concelho da [fl. 115v] [Maia] foi sempre
desprotegido dos governos; nunca teve quem o representasse nas Câmaras. Isto, devido à boa índole dos povos da Maia que, inclinados ao trabalho, pouco se
importavam com o deputado que o governo lhe apresentava e, por isso, fosse ele o maior ‘tranca’, era sempre eleito pelo povo. Era o círculo eleitoral da Maia
aquele que o governo tinha certa a eleição do deputado. Por isso, quando tinha algum amigo que queria servir, dando-lhe uma cadeira no parlamento, propunha-o
pela Maia e Bouças, ou ainda outro concelho. E era certa a sua eleição, ficando, portanto, deputado de quem lhe dava a cadeira, para dizer “amém” que, geralmente,
só para isso servia e não do círculo que o elegia.”
A finalizar esta temática chamou-se a atenção para uma opinião expressa na publicação”Domus Ivistitiae da C. M.M., p. 9 e que justifica a redução do concelho
a 16 freguesias:
O que então contou, no curso desses quarenta anos, que quase destruiram a Maia foram os apetites dos caciques políticos, interessads em ampliar os respetivos
círculos eleitorais, ou mesmo em criá-los, no fito de duplicarem os assentos no parlamento, ou de conquistarem um possível novo lugar de eleição, mais adequado
às suas próprias relações clientelares.
As opiniões da assembleia prenderam-se mais com a incapacidade de reação pela falta de estruturas políticas de uma sociedade ainda muito rural, como aliás nos
indica também o padre Joaquim Antunes de Azevedo.
Como conclusão, o palestrante referiu ser esta uma temática demasiado abrangente que precisaria de ser retomada, pela oportunidade da comemoração do bicentenário
das lutas liberais.
Lourdes Graça da Cunha e Silva