No passado dia 22 de outubro, pelas oito horas da manhã, o Clube UNESCO da Maia iniciou a viagem de 2 dias a Vinhais.
Seguimos pela A4 até Mirandela, pelo que pudemos mais uma vez apreciar essa obra extraordinária de engenharia que é o túnel do Marão, que com os seus cerca de 5,7 km
permite ultrapassar esta montanha em apenas cinco minutos!
Apesar da ameaça de tempo chuvoso, a viagem prosseguiu alegre e bem disposta depois do Prof. Raul Silva ter dado as boas vindas e felicitado os associados da CUMA pelo
interesse manifestado em participarem nesta viagem, lamentando o facto de nem todos os interessados terem podido acompanhar-nos, face à falta de instalações hoteleiras
disponíveis.
Todos se manifestaram deslumbrados com a paisagem que desfilava perante os seus olhos e puderam apreciar os inúmeros soutos com os castanheiros ainda carregados de frutos,
uma vez que a falta chuva no verão atrasou a colheita.
Durante a viagem, a associada Lourdes Graça teceu algumas considerações sobre as terras de Trás-os-Montes, em especial, sobre Vinhais, permitindo aos participantes um
melhor enquadramento do que era esperado.
Na chegada à vila, pudemos apreciar o Maior Assador de Castanhas do Mundo, atribuído pelo Guinness World Records.
Está convenientemente instalado numa rotunda e tem 9,5 metros de altura, cinco de diâmetro e pesa 600 quilos, permitindo assar mil quilos de castanhas ao mesmo tempo.
Depois de instalados no Hotel e findo o almoço, foi efetuada uma visita ao recinto da feira, nomeadamente ao Espaço de Exposição e Venda, onde pudemos apreciar e comprar
os produtos tradicionais do Nordeste Transmontano (fumeiro, queijos, compotas, mel e doces que integravam a castanha na sua confeção).
Foi possível também degustar castanha assada no assador gigante e visitar dois espaços que integravam a Rural Castanea: um Espaço Temático do Castanheiro e um pavilhão
de Exposição de Animais de Raças Autóctones Transmontanas, com excelentes exemplares de porcos da raça bísara.
Do programa, fez parte assistir ás Chegas de Touros de Raça Mirandesa, onde dois corpulentos machos aproximam (“chegam”) as cabeças, que mantêm encostadas para
determinar o mais forte.
Pelas 17,30 horas, fomos recebidos pelo Exmº Senhor Presidente da Câmara de Vinhais, Dr. Américo Pereira, no Centro Cultural Solar dos Condes de Vinhais, o qual numa
breve alocução de boas-vindas forneceu alguns dados relativos ao concelho que administra. Assim, pudemos tomar conhecimento que se trata de uma vila portuguesa, pertencente
ao Distrito de Bragança, com cerca de 3000 habitantes. É sede de um município com 694,76 km² de área e mais de 9000 habitantes, subdividido em 26 freguesias.
Em Vinhais, realizam-se duas grandes feiras: a mais conhecida e mais antiga, a do Fumeiro ocorre no 2º fim-de-semana de fevereiro de cada ano e vai já na sua 32ª edição
e a Feira da Castanha cuja 11ª edição estava a decorrer nesse fim-de-semana.
A castanha representa para o concelho a atividade económica mais importante. Cerca de dois terços da produção nacional resultam dos soutos existentes na Terra Fria que
abrange os concelhos de Bragança e Vinhais.
A concluir a audiência,o Professor Raul da Cunha e Silva fez a apresentação do Clube Unesco da Maia com a oferta do segundo volume dos moinhos da Maia.
Foi efectuada a visita ao Solar dos Condes de Vinhais, um monumento setecentista, que exibe na sua fachada todo o dinamismo barroco.,
A Câmara adquiriu-o e recuperou-o instalando nele o Centro Cultural que possui biblioteca, espaço internet, capela, teatro e cafetaria, com uma agenda cultural variada e
diversas exposições temporárias.
Para além do teatro, onde se realizam conferências, festas escolares, teatro e concertos musicais, há também uma sala de exposições onde atualmente se pode apreciar a
divulgação das diversas festas realizadas no concelho sob o título Vinhais – Terra de Mil Diabos, bem como o espólio cedido pelos antigos responsáveis pela exibição de
filmes nesta terra.
À hora do jantar, a associada Adorinda expôs o tema ”A importância da castanha na economia de Vinhais e uma abordagem sumária sobre os pombais e sua influência.
No 2º dia visitámos o Museu de Arte Sacra da Ordem Terceira que integra o conjunto arquitetónico da Igreja de São Francisco e do Seminário dos Missionários Apostólicos
de Vinhais onde apreciámos a coleção de crucifixos e de diversos objetos de arte sacra, bem como a talha e esculturas de santos ali expostas.
Na zona denominada por Castelo, observámos as muralhas medievais à base de xisto, o pelourinho no centro de um largo.
Neste espaço encontra-se o Centro de Interpretação do Parque Natural de Montesinho. que permite por meios audiovisuais, conhecer o património cultural, antropológico e
histórico do concelho de Vinhais, bem como o património natural do Parque Natural de Montesinho (clima, relevo, fauna e flora).
Em seguida, a visita continuou no Centro Interpretativo do Porco e do Fumeiro, espaço de excelência, localizado no Solar do Conde Sarmento, e resultante da parceria da
autarquia e da Associação Nacional de Criadores de Suínos de Raça Bísara (ANCSUB), com o apoio técnico da Universidade de Trás-os- Montes e Alto Douro. O Centro é abrangente,
não se dedicando apenas à raça bísara e ao fumeiro local. É feita referência às raças existentes em Portugal, à origem do porco desde o javali, ao fumeiro nacional, e é dada
uma panorâmica geral da importância do sector.
O recurso a elementos expositivos interativos, baseados em tecnologias multimédia, proporciona uma experiência cultural rica e atrativa, permitindo apresentar o porco nos seus
múltiplos aspetos: no espaço rural, na criação, na alimentação, na matança, no fumeiro.
Depois do almoço, iniciamos a viagem de regresso, tendo chegado à Maia por volta das 20 horas, felizes e culturalmente enriquecidos com os inúmeros conhecimentos adquiridos ao
longo da viagem.
Normando Faria
09-09-2016 – Visita ao Santuário de Santa Eufémia
Reinício das actividades do clube Unesco da Maia
No dia 9 de setembro no santuário-capela de Santa Eufémia o nosso clube retomou
oficialmente as suas actividades com dois momentos essenciais:
Conferência sobre o espírito das montanhas, dentro do templo e lanche-convívio no
exterior.
A importância das montanhas no contexto cultural
As montanhas são símbolos fundamentais para compreender os diversos modelos e
tradições do pensamento, da cultura e da religião , essenciais para a inteligibilidade do
mundo.
Superstições e, mais tarde, as religiões admitiam que os deuses moravam nas
montanhas tornando-as sagradas, ou seja, hierofanias. Muitas religiões têm a sua
montanha sagrada que faz as vezes do deus Sol (Mythologies des Montagnes, des Forêts
et des Iles, Laro usse. Paris, 1963,pg.130.) No cimo das montanhas dizem os indígenas
norte americanos residem os espíritos protectores (ibid.177).
A montanha expressa a ideia de elevação e de subida. Podemos tomar como modelo o
sonho de Jacob (Génesis 28,11-19) que viu uma escada apoiada na terra, cuja
extremidade tocava o céu e ao longo dela subiam e desciam mensageiros de Deus, ou
seja, uma escada (imaginária) que une a terra ao céu.
Narrativa semelhante encontramos na antiga Caldeia, segundo a qual.” Próximo de
Eridu, a casa do deus da água, Enki, havia um jardim com uma misteriosa Árvore
Sagrada, a Árvore da Vida, plantada por divindades com raízes profundas, e ramos que
atingiam o céu, protegido por espíritos. Tratava-se da morada dos deuses.”
Também Gilgamesh (o Homem que não queria morrer), Rei de Ur, faz uma longa
viagem à procura de Utanapist i , “o Noé da Suméria”, sobrevivente do Dilúvio,
conhecedor dos segredos da imortalidade e restaurador dos santuários que não foram
destruídos pelo Dilúvio (Tablette 1ª, verso 42),situados nos altos das montanhas que são
lugares sagrados mais próximos do céu onde mora Samash Aí praticam-se rituais em
forma de círculos com tochas fumegantes que fazem lembrar operações mágicas e
exorcismos que proporcionam as boas graça de Samash e afastam as más.
Gilgamesh, subindo ao alto da montanha, lugar sagrado mais próximo do céu, tendo
praticado o ritual mágico-religioso da incubação, pede um sonho que seja promessa de
felicidade (…) l’Épopée de Gilgamesh, trad. Jean Bottéro, Gallimard,1992, pag.99.
Segundo o Génesis,11.1-5 ”Vamos construir uma cidade e no cimo uma torre que
atinja os céus”. Era a torre de Babilónia. Mas Deus pôs-se lá de cima a espreitar, desceu,
viu e confundiu as línguas”.
Os chineses deram grande importância às montanhas às quais ofereciam sacrifícios
solenes. Segundo eles, as montanhas estão próximas do Céu, fazem nascer nos seus
flancos as nuvens transportadoras da chuva. Tornam-se, por isso, sagradas.
O monte Fugi (Património mundial da Unesco) é considerado uma montanha sagrada
por muitas religiões japonesas.
Desde tempos antigos os budistas acreditam que o monte Fugi é a porta de entrada para
um novo mundo, juntamente com o Monte Tate e Monte Haku, que formam as Três
Montanhas Sagradas do Japão.
Machu Pichu ou a velha montanha, cidade perdida dos Incas construída a 2430 metros
no alto de uma montanha. É património mundial da Unesco e uma das sete maravilhas
do mundo moderno. Registar que na zona sagrada onde está o templo do sol tudo estava
preparado para a passagem do deus sol.(Inserir a foto da cidade do texto anterior)
Há, pois uma ligação entre as divindades e as montanhas, seja nas religiões do Próximo
Oriente, seja na Europa ou noutros credos espalhados pelo mundo.
Montanhas emblemáticas
Recordemos, a título de exemplo, o monte Olimpo, residência oficial dos deuses gregos,
a acrópole (cidade alta) ateniense, as sete colinas de Roma, o Monte do Sinai, onde
Moisés recebeu as Tábuas da Lei (Decálogo),a Montanha onde Jesus pregou um dos
seus mais importantes sermões, o muito célebre sermão da montanha.
O monte Carmelo, o local onde Elias desconcertou os profetas de Baal, levando de
novo o povo de Israel à obediência ao Senhor. (2Reis 1:9-15). Foi também no Monte
Carmelo que Elias fez descer fogo do céu, que consumiu por duas vezes os 50 soldados
que o rei contra si enviara.
O monte Hira perto de Meca em cujas grutas Maomé em 610, recebeu a mensagem do
arcanjo Gabriel e o Corão.
Altos bíblicos.
Os lugares altos eram simplesmente locais de adoração em porções elevadas de terra ou
altares levantados sobre terras baixas (como um vale). Os lugares altos foram
originalmente dedicados à adoração de ídolos.
Os judeus encontraram muitos lugares altos dos cananeus que os consideravam espaços
sagrados.
Levítico,26.30 Se não me escutas, ”destruirei os vossos lugares altos, derrubarei os
vossos altares portáteis…”ameaças do Senhor aos judeus incumpridores.
Números.33.52, Como ides passar o Jordão para a terra de Canaã, destruireis todos os
ídolos, todas as estátuas de metal, devastareis todos os seus lugares altos onde se faziam
práticas horrendas, sacrifícios de crianças, prostituição ritual e idolatria.
Deuteronómio 12.2. Destrui todos os santuários em que os povos por vós desalojados,
tiverem prestado culto aos seus deuses nos altos montes, nas colinas e debaixo das
árvores frondosas.
Há aqui uma alusão aos “lugares altos do culto da fertilidade dos cananeus. (lugares
altos eram elevações de terreno, geralmente com vegetação abundante, onde os
cananeus praticavam o seu culto aos deuses. Eram providos de um altar para as oblações
sacrificiais, havia ali estatuetas das divindades adoradas…)
Isaias,16.12 “Havemos de ver Moab afadigar-se por subir aos lugares altos e entrar no
seu santuário para orar mas de nada lhes valerá.”
Jeremias,32.35” E construíram (os filhos de Israel e de Judá) altares a Baal no vale de
Ben-Hinom para aí imolarem os filhos e as filhas em honra de Moloc, coisa que nunca
lhes mandei nem me passou pela mente cometer semelhantes abominações.
1 Reis 11:11 Embora Salomão tenha construído o templo de Deus em Jerusa lém, mais
tarde, ele estabeleceu altos idólatras para as suas mulheres estrangeiras, fora de
Jerusalém e adorou com elas, causando -lhe a perda do reino.
Génesis 12:6-8, Nem todos os lugares altos foram dedicados à adoração de ídolos. Eles
desempenharam um papel importante na adoração israelita e a primeira menção bíblica
de um local de culto, mais tarde chamado de “lugar alto”, encontra-se onde Abrão
edificou altares ao Senhor em Siquém e Hebron.
Estes santuários muitas vezes incluíam um altar e um objeto sagrado, como um pilar de
pedra ou pedaço de madeira que se identificava, através do seu formato, com o objeto
de adoração (animais, constelações, deusas e deuses da fertilidade.).
Génesis 22:1-2. Abraão construiu um altar na região de Moriá e estava disposto a
sacrificar o seu filho lá (Acredita-se tradicionalmente que este local é o mesmo alto
onde o templo de Jerusalém foi construído).
(Josué 4:20) Josué construiu pilares de pedra, depois de atravessar o Jordão e
considerou este alto um lugar de adoração, porque os israelitas “subiram” da Jordânia
aos terrenos mais elevados.
Os profetas denunciavam os lugares altos com todas as suas práticas
1ºSamuel,8,12-1Contudo, só com o cativeiro da Babilónia as práticas dos lugares altos
ora perseguidas, ora reassumidas, terminaram).
Alguns altos muito especiais: Notre Dame de la Garde em Marselha, Montserrat em
Barcelona, Sameiro, Viso, Senhora da Graça, Senhora da Neves em Sambade, Assunção
em Vila Flor, Senhora da Serra no ponto mais alto da serra de Nogueira, Senhora da Mó
em Arouca, Fátima.
Em boa verdade podemos dizer que em Portugal não há altos de relevo sem uma capela
– santuário frequentemente, mariano.
Um altar celta foi descoberto muito recentemente na capela de Santa Ana no Outeiro
Seco em Chaves. “É um altar monumental, único em Trás-os-Montes e provavelmente
em Portugal” É um achado muito importante sobre o nascimento de Outeiro Seco.
Aliás, “a palavra Outeiro vem do latim clássico ‘altarium’ que quer dizer altar que, por
sua vez, deriva de alto. Assim, alto, altar e outeiro integram a mesma família semântica,
vocábulos conotados com a oração.
Na segunda parte da conferência, intervieram os associados padre joaquim e Lourdes
Graça que, dentro do tempo disponível, abordaram os seguintes itens:
A vida de Santa Eufémia, em várias versões, sobretudo a escrita num pequeno opúsculo do
santuário.
O relato e envolvimento popular desta festa nas zonas envolventes e particularmente nas
Terras da Maia. A este propósito, citou-se um texto de Luís de Magalhães, inserido na obra: “O
Brasileiro Soares” relevando, alguns excertos que falavam na alegria e preparação da merenda,
o envolvimento das raparigas maiatas, “raparigas bonitas, trigueiras, de ancas largas, seio
repolhudo”, os namoricos e todo o espaço sagrado, profanado pelos comes e bebes, “uma
pipa calçada por duas achas, os canjirões que se despejavam nas goelas dos fregueses”, a
quinquilharia com a venda de assobios, cornetas de barro ou anéis de chumbo.
Quase em círculo fechado, a envolver este ambiente mítico, o orbe celestial vai-se tornando
cada vez mais azul, mais intenso, mais sacralizado, pontuado aqui e além de pontinhos
luminosos Entra-se num espaço sagrado. O mesmo sentir de Mirceia Eliade, quando diz: “ A
simples contemplação da abóbada celeste desencadeia já uma experiência religiosa”. Será
também este um mistério dos Santuários da Montanha.
Sobre a arquitetura do santuário, poucos pormenores testemunham o seu passado. A capela
tem sofrido alterações sucessivas, algumas registadas na testeira da porta principal. Os altares,
em barroco tardio, referem a reconstrução dos finais do século XIX.
Sublinhe-se a crença popular nos milagres da santa, perfeitamente testemunhados pela
enorme coleção de ceras, de todas as partes do corpo humano, existentes na capela.
A terminar e no exterior do santuário fizemos um alegre convívio com um lanche suculento.
Raul da Cunha e Silva
23-08-2016 – Escravatura, abolida?
Artigo publicado no Jornal Maia Hoje a 2 de setembro de 2016
1.- No dia 23 de agosto, a UNESCO comemora o “Dia Internacional para a Memória do Comércio de Escravos e sua Abolição”. Cabe bem nos dias que atravessarmos refletir e agir sobre “Comércio de Escravos” e “Abolição” desse comércio. Estamos neste dia a fazer “memória” de um comércio de homens, mulheres e crianças e lamentamos, pedindo perdão por tais atos indignos na nossa sociedade. Natural que assim seja, nós portugueses que abolimos a escravidão e o comércio de escravos, nem que tenha sido por imposição do nosso aliado de sempre. Que fizemos, em nome de Deus, escravatura e da dura, isso realizamos, sem titubear. Leiam-se as cartas do padre António Vieira digno opositor de toda a escravatura humana e defesa intransigente dos indígenas, e como foi perseguido pela Santa Inquisição. Reis, nobres, religiosos, padres e quando possível pessoas do povo, foram algozes para os índios e populações a quem pertencia a terra, ensinando a obedecer, em nome de princípios de seu próprio bem, subjugando, maltratando e matando, aqueles cujo único crime fosse tentar não ser tão escravos. Um povo que submete outros povos, só pode ser um povo submisso.
2.- A memória continua, porém, a fazer-se sobre o “comércio de escravos” e a “abolição” que está a muitas léguas de ser cumprida. Se é verdade quem em muitos pontos desta Terra Azul se continuam a comercializar pessoas, obedecendo a ditames dos senhores do dinheiro e da guerra, também o é a existência de novas formas de escravatura. Desde logo a escravatura cultural, dramática e ofuscante, por que não se vê, ou a escravatura económica, ou mesmo a social. Existe escravatura, como antigamente, e como, agora, arranjamos forma de a cobrir com mantos de cores estrangulantes. Escravizamos o outro sempre que não reconhecemos nele, um nós, um não-eu, e o tratamos como um eu. Uma maneira encoberta de escravizar: no trabalho, na escola, na saúde, na educação, na formação, no mais elementar da vida humana.
3.- Mas existe a escravatura ambiental, a forma como tratamos a Terra Mãe, aquela que tudo nos dá para vivermos, e de onde delapidamos o que nos apetece. A Natureza está a ser escravizada, assim como o fazemos aos nossos irmãos não-humanos. A fúria humana para viver duma forma de lauto banquete, embrutece as consciências, e não reconhece a terra. Escravizamos quem nos fornece a vida e o ser ontológico, incompreensivelmente. Onde estão as estações do ano? Este é um pecado estrutural, pecado original originante, a que todos submetemos, sem sequer nos preocuparmos com o devir. Está longe o dia em que falemos da “abolição” da escravatura, por que esta existe sobre outras formas. Dia 23 de agosto, dia em que nos fará muito bem refletir sobre estas coisas.
Joaquim Armindo
11-07-2016 – Conferência sobre o foral da Maia
No dia 11 de junho, aquando das festas do concelho da Maia e perante uma assistência de 60 pessoas, o professor doutor Luís Carlos Amaral, como já vem sendo hábito,
nesta altura, fez, desta vez, uma abordagem do foral da Maia.
O conferencista contextualizou o documento dentro da política foraleira manuelina que, se por um lado pretende confirmar a existência jurídica e regulamentar os direitos
e deveres das populações, por outro lado, pretende fortalecer a autoridade real, cerceando poderes locais e centralizando poderes municipais que acabavam por consolidar a
supremacia do rei. Nesse sentido, sublinhou o papel de Fernão de Pena nesta questão dos forais.
Recordou a particularidade de foral da Maia, um documento extremamente curioso, pela elencagem das localidades que pertenciam à Maia, mas também pela pormenorização de
determinados foros que levam a concluir das atividades desse tempo. O Foral da Maia data de 15 de dezembro de 1519 e insere-se na designação de forais novos, dados por D. Manuel.
Recordou a extensão das terras na Maia, os conflitos das populações próximas do mar com o donatário, Pêro da Cunha, a propósito dos impostos exigidos aos lavradores que
pretendiam tirar o sargaço para estrumarem as terras.
Falou ainda do Mosteiro de Vairão, ao tempo pertencente às terras da Maia, sua importância económica e a função social e a importância que o foral lhe consagra.
Concluiu afirmando que a comemoração do 6º aniversário (2016) será altura de um estudo mais aprofundado do documento.
Houve várias questões postas pela assistência, o que muito animou a conferência.
A apresentação do orador e do tema esteve a cargo de Lourdes Graça. Por fim, o presidente do Clube, Raul da Cunha e Silva encerrou os trabalhos agradecendo ao orador o
brilho e a eloquência da sua comunicação e também aos associados e amigos do clube Unesco da Maia que respondem muito bem aos eventos programados.
Lourdes da Cunha e Silva
29-05-2016 – Aldeias históricas do norte de Portugal
Viagem a Vila Pouca de Aguiar
Eram quase oito e meia da manhã do passado dia 29 quando o autocarro iniciou a marcha com destino a Tresminas. Nele seguia um grupo sedento de saber e pertencente à C.U.M.A. presidido pelo
ilustre Professor Raul Silva.
A curiosidade era grande e as expectativas maiores ainda pois iríamos à “terra do ouro”.
Seguindo a A4 foi-nos dado, experimentar o túnel recentemente inaugurado e que nos permite ultrapassar o Marão em cinco minutos!
Apesar da chuva havia a compensação da deslumbrante paisagem que desfilava perante os nossos olhos.
E a viagem prosseguia depois do Prof Raul ter proferido uma breve peroração e um dos “viajantes” tecido algumas considerações ao “reino maravilhoso” Trás – os – montes – assim designado por Miguel Torga.
Chegados a Vila Pouca de Aguiar juntou-se-nos uma guia que seguiu connosco até ao local do destino.
Começámos por ver as “Cortas”, lugares donde o ouro era retirado, a céu aberto e bastante profundos. Tudo isto exigia trabalho braçal sobretudo escravo em quantidade para arrancar esses
pedregulhos para
depois de tratamento adequado, ultrapassados múltiplas tarefas, se chegava ao produto final, o ouro escravo
Também as galerias por onde se escoavam os escombros fonte residual do metal precioso e que foram visitadas deparando com grande quantidade de morcegos, hoje os residentes desses lugares ancestrais.
Descemos à povoação de Trêsminas onde nos foi servido um lauto almoço com a particularidade de vir para a mesa um “ensopado de cogumelos” que a todos surpreendeu pelo seu agradável sabor.
Deixámos a “Tasca” e passámos ao Centro Interpretativo onde visualizámos pormenores alusivos ao tema tendo até tido a oportunidade de “mexer” em réplicas de instrumentos utilizados na extracção do metal amarelo.
No regresso ainda tivemos oportunidade de visitar o museu cujo espólio catalogado nos forneceu mais informação do mundo Aguiarense.
Pela A7 viemos até à Maia havendo ainda lugar a um pequeno espaço poético para gáudio das gentes.
Já passava das dezanove horas quando aconteceram as despedidas e debandada geral com comentários altamente positivos ao dia que se encaminhava para o final.
Jaime
27-05-2016 – Para além das palavras. Comunicação gestual no dia a dia
No passado sábado, dia 21 de Maio, a CUMA – Clube Unesco da Maia realizou, no salão nobre da Junta de Freguesia da Maia, uma sessão subordinada ao tema : PARA LÁ DAS PALAVRAS.A Linguagem Não-verbal.
Foi orador Miguel Ângelo Rodrigues, Provedor dos Munícipes da Maia e membro do Clube Unesco da Maia.
Perante uma significativa plateia de associados, Miguel Ângelo Rodrigues dissertou sobre as diversas formas de comunicação gestual e corporal que fazem parte do nosso dia-a-dia, no domínio
da Paralinguagem, da Cinésia e da Proxémica.
Assim a Cinésia estuda a linguagem corporal, gestos, expressões faciais e visuais que exprimem uma linguagem universal, como afirma Paul Ekman, professor na Universidade da Califórnia.
Este cientista que fez estudos em partes longínquas como Argentina, Japão ou Papua/ Nova Guiné concluiu que os seres humanos, embora diferentes uns dos outros na sua morfologia, são idênticos
no modo como expressam as suas emoções : felicidade, tristeza, repulsa, surpresa , medo, desprezo, etc.
A Paralinguagem ocupa-se da forma ” como dizemos ” e que, muitas vezes, vale mais do que o conteúdo das palavras: o tom de voz, ritmo, pausas, sonoridade, silêncios, etc. Através da
vocalização transmitimos diferentes emoções e estados de alma. Empregar o tom de voz adequado a cada circunstância, é um poderoso instrumento de comunicação.
Por sua vez, na Proxémica, estuda-se a gestão do espaço que ” exigimos ” na proximidade dos outros e em relação aos objetos. Este espaço é determinado por valores culturais e etários,
mas todos temos necessidade de uma ” zona privada ” e reagimos, comunicando sentimentos, quando é violada.
Na realidade, a Linguagem Corporal é uma forma de comunicação não-verbal que abrange gestos, posturas, expressões faciais, o movimento dos olhos, o tom de voz a apresentação visual e a
proximidade física entre interlocutores.
Para melhor se perceber a importância desta Linguagem, basta citar o investigador americano Ray Birwistell que num estudo recente concluiu que 55% da mensagem é linguagem corporal,
38% é paralinguagem e apenas 7% da comunicação é feita pela palavra . Este processo de comunicação feito através de expressões faciais, gestos, olhos, postura corporal, vocalização e
sonoridade é mais expressiva e mais sincera contrariando, muitas vezes, o que se está a dizer por palavras.
Para o orador, Miguel Ângelo Rodrigues, o nosso corpo é um verdadeiro tratado de comunicação. Não é possível não comunicar. Mesmo no silêncio mais profundo, ou numa atitude introspetiva
estamos a comunicar. O conhecimento desta linguagem que está PARA ALÉM DAS PALAVRAS é fundamental para uma boa comunicação interativa, no nosso dia a dia, em que todos somos emissores e recetores.
Com a ” lição ” bem preparada e através de múltiplos exemplos e imagens, o Provedor dos Munícipes deu uma verdadeira ” aula” de comunicação tendo mantido vivamente interessados e participativos
ao longo de duas horas, os ” alunos ” do Clube Unesco da Maia.
Por fim, o presidente do clube Unesco da Maia agradeceu a competência e o brilho do orador bem com a participação dos presentes.
Miguel Ângelo
16-04-2016 – 6º aniversário do Clube UNESCO da Maia
No dia 16 de abril, o Clube Unesco da Maia celebrou o seu 6º aniversário. Foi um tempo memorável pelo esforço que temos feito na prossecução dos
objetivos que nos nortearam, aquando da constituição do clube.
Um esforço coletivo de todos e de cada um, pelo que o sucesso obtido é também de cada um dos associados.
O aniversário baseou-se no seguinte programa:
11.30 Horas – Passagem de um vídeo com o histórico do último ano do Clube;
12 – Admissão de novos associados;
13 – Almoço e momentos de comunicação.
Os vinte minutos do histórico de 2015 traduziram de forma fiel todo o trabalho realizado. Um trabalho muito bem estruturado pela Lourdes Graça e Augusto Amaral.
O segundo momento foi a admissão de 7 novos associados que muito vão contribuir para um acréscimo do dinamismo do clube.
Candidatos e respetivos padrinhos assumiram o prazer de entrar num clube que, segundo as suas palavras e as nossas certezas é um grande clube para o qual eles irão dar o seu contributo.
Este momento foi iniciado pela Raquel Lima que tocou “Melodie en miniature” de Armando Ghidoni que lhe havia conferido o 2º lugar num festival infantil.
Cada um recebeu o segundo volume dos “Moinhos da Maia” e o Regulamento Interno do clube.
Das intervenções, gostaria de realçar a comunicação da Dra. Olga Freire, Presidente de Junta da cidade da Maia que, revelando grande conhecimento dos
nossos trabalhos, teceu encómios lamentando que a questão da sede não esteja ainda resolvida.
O almoço foi um momento de grande e animado convívio. O protocolo foi dirigido pelo associado Normando Faria e Laura Mora.
Fez-se um momento de silêncio pela partida da associada Maria Estela.
Leram-se textos, declamaram-se poemas, numa aliança bem conseguida entre os prazeres da cultura e os sabores do estômago.
O Clube Unesco da Cidade do Porto, representado pela Ermelinda Pereira, realçou a grande amizade entre os dois clubes e a preocupação pela saúde muito
periclitante do seu presidente, Dr Sívio Matos.
Antes de degustar o bolo de aniversário e cantar as canções próprias do momento, o presidente do clube, baseando-se em passos da Eneida e dos Lusíadas
cantou o longo caminho de seis anos que da Ocidental Praia Lusitana aportou aqui, navegando através de grandes dificuldades para revelar ao mundo os feitos
maravilhosos em boa parte mostrados no início da sessão da manhã. Salientou ainda um passo muito célebre de Cícero ao afirmar:
A amizade encontra semelhantes ou faz semelhantes aqueles que não o eram. E hoje essa identidade é a nossa força.
E foi com este auxílio, incluindo os outros que nunca chegaram, que nos foi possível estar aqui com trabalho feito e muita alegria.
Raul da Cunha e Silva
06 e 07-02-2016 – A CUMA celebra o Carnaval
A CUMA celebrou o Carnaval num convívio com relevante participação dos associados, nos dias 6 e 7 de Fevereiro, no Inatel de Vila Nova de Cerveira.
Durante a viagem, os objectivos que norteiam o Clube não foram esquecidos. O Presidente, Dr. Raúl da Cunha e Silva explicou as origens e o significado do Carnaval,
um associado leu um poema a propósito do evento e uma associada explanou o tema do Carnaval em Portugal, referindo-se em particular ao Carnaval do Porto, tema ilustrado
com a leitura de textos da obra de Alberto Pimentel, ”O Porto na Berlinda”.
A celebração do Carnaval decorreu com animação e alegria.
No dia 7, antes do almoço, visitámos o Aqua Museu de Vila Nova de Cerveira, instituição que desenvolveu acções “no sentido de aumentar o conhecimento do património
natural e etnográfico, associados ao Rio Minho”.
No Miradouro do Cervo apreciámos a bela paisagem circundante e ficámos a conhecer a “Lenda do Rei – Cervo” e a hipotética relação com o nome da terra.
Depois do almoço, regressámos à Maia e durante o percurso houve intervenções de associados que lembraram poetas ligados à região como Pedro Homem de Mello e
António Correia de Oliveira. Do poeta do Belinho” foi lido o poema “A preguiça”.
Chegámos com vontade de repetir convívios que reforçam os laços de amizade e de cultura.
Artur Baptista