Clube Unesco da Maia visitou Montesinho e Bragança nos dias 25 e 26 de maio, o Clube Unesco da Maia teve o privilégio de concretizar uma das atividades
do seu plano anual: visita ao Parque Natural do Montesinho, com o objetivo de verificar “Como a geodiversidade condiciona a biodiversidade”.
Um grupo de associados, no dia 25 deste mês, rumou até Bragança, curioso e entusiasmado para observar in loco, e ouvir falar da influência da geologia
na flora e vegetação do concelho de Bragança.
Sob orientação do associado Carlos Meireles, geólogo e investigador do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), e do Professor Doutor Carlos Aguiar,
do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), visitámos o lugar do Tojal dos Pereiros – lugar de importância ímpar em Portugal pois é aqui que se podem observar
afloramentos de rochas granulíticas (anfibolitos e blastomilonitos) – rochas com origem a cerca de 40 km de profundidade da Terra e, talvez as rochas mais
antigas do País, com cerca de 1,1 mil milhões de anos.
Já em Vila Boa de Ousilhão – Alimonde, foi possível constatar a nítida influência das rochas ultramáficas,
que são também designadas de ultrabásicas (da crusta oceânica e do manto) que por serem muito ricas em níquel e magnésio, são nocivas para a maior parte das
plantas levando à existência de algumas espécies vegetais endémicas (como a Santolina semidentata, a Armeria eriophylla, a Anthyllis sampaiana e a Avenula pratensis)
e a distribuição do coberto vegetal.
O almoço (merenda transmontana) deste dia foi na tranquila, simpática e acolhedora aldeia de Ousilhão.
Foi um trabalho excelente graças à motivação não pequena
do presidente Adalberto Costa.
Houve ainda tempo para uma visita à aldeia e à sua Associação Cultural Recreativa e Desportiva, instalada na antiga escola primária.
Nestas instalações existe uma exposição sobre os trajes e máscaras usadas pelas gentes de Ousilhão nas suas festas com reminiscências pagãs, tal como é comum
acontecer por estes lados do nordeste transmontano.
No regresso a Bragança e passando por Vinhais, Paçó, Parâmio e Espinhosela, a dupla de guias continuou a dar exemplos de como rochas de origens e composições
distintas, como os serpentinitos e peridotitos (ultrabásicas), os gabros, os gnaisses e os micaxistos (rochas básicas, com pH elevado), condicionam, sem qualquer
dúvida, a flora e cobertura vegetal.
Os solos com origem em rochas ultrabásicas apresentam-se delgados e quase sem cobertura vegetal ou com espécies muito
seletivas e os com origem em rochas básicas revelam-se mais profundos, sendo sabiamente aproveitados pelo lavrador bragançano para a plantação de centeio ou trigo,
castanheiro (Castanea sativa) e a natural regeneração do Quercus pyrenaica (carvalho-negral).
Em 26 de maio o grupo foi ao encontro do património edificado, cultural e artístico da cidade de Bragança, com particular destaque no “casco” velho da cidade.
Aqui visitou-se o Museu Ibérico da Máscara e do Traje, onde estão patentes exemplos de trajes e máscaras usadas nos rituais festivos (solstício de Inverno, o
Carnaval), quer de várias localidades do nordeste transmontano, quer da região zamorana.
São resquícios do sagrado pagão com origem nas culturas celta e/ou
romana e comuns dos dois lados da fronteira; a Domus Municipalis, o único edifício românico, não religioso, que existe na Península Ibérica; a Igreja de
Santa Maria do séc. XVI e da sua magnífica talha dourada, descritas de forma exemplar pela Drª Lourdes Graça; o Castelo, integralmente construído com rochas
peridotíticas da região e a lenda da torre da Princesa e, para terminar, o Museu Abade de Baçal, onde se destaca o seu acervo de epigrafia romana, estatuária
religiosa e a belíssima coleção de pintura portuguesa dos finais do séc. XIX, primeira metade do séc. XX.
O regresso à Maia ocorreu depois de um repasto à volta da castanha e do javali, no Solar Bragançano, num ambiente de fraternidade e alegria.
Mais uma vez o Clube UNESCO da Maia promoveu a CULTURA, a CIÊNCIA, a EDUCAÇÃO e a PAZ.
Ana Almeida