Artigo publicado no Jornal Maia Hoje
1.- Falar no Dia Mundial da Conservação da Natureza, a celebrar no próximo dia 28, é antes do mais, falar na Criação. A Criação que é tudo isto que conhecemos e
tudo o que ainda não conhecemos, como dom para vivermos na Paz, na justiça e na Relação Mútua. A Criação é um todo, que não sabemos como começou, se começou ou se
acaba ou vai acabar. Sabemos é que somos deste húmus da Terra, nossa Mãe, que a todos alimenta, que a ninguém subtrai elemento algum. A Criação é alguma coisa, que
não se define, por que se vive e é nesta dimensão e ambiência que está dentro dos nossos corpos e corações. A interminável Criação, que a todos os momentos é conseguida,
por nós, mas, também, por si própria, constitui um capital que de modo algum se pode tornar temporal ou espacial. Porque para a Criação não existem tempo e espaço,
mas uma infindável Vida. Dela somos, nela vivemos, dela nos alimentamos e para ela vamos. Como um ciclo de vida repetida a cada instante, sem ser instante, porque atemporal.
Mas por ser Criação e ter Criador é um fundo consentâneo com a raiz dos nossos poemas, enquanto seus defensores.
2.- Mas é esta Relação Mútua de quem vive numa casa comum, ampla de tal forma que não possui espaço nem tempo. Relação ecuménica porque abrangente a todos os seres vivos
e não vivos. Primeiro por que relação de cada um consigo mesmo, numa amizade consubstanciada na coroação dos seres, uma relação que é uma reconciliação de cada um consigo mesmo.
Segundo, uma relação de cada um com os outros, na compleição de reconciliação com todos os seres vivos, e, principalmente, com os outros homens e mulheres. Terceiro, uma relação
com a Natureza, de onde provimos, numa reconciliação não abstrata com o ambiente que temos degradado. Quarto, uma relação com o Criador, numa reconciliação adjacente e produtiva,
espiritual, e sem tempo, com a celebração da Vida, com a ontológica razão de ser.
3.- Mas este dia é para lembrarmo-nos da necessidade de “conservar” a Natureza, e isso é rendermo-nos à inevitável tarefa de construir. Conservar a Natureza é respeitar cada
ser humano ou não humano, os ecossistemas que conhecemos e que destruímos, ou aqueles que ainda não conhecemos e que queremos destruir. Conservar a Natureza é um pedido de
perdão ativo e forte que deve existir em cada um e cada uma. Nós, género humano, rastejamos para disparar tiros e atirar granadas à Natureza, que dá a vida. Nós nem sequer
simulamos mas apedrejamos a Terra Mãe, como fosse uma tirana. Por isso este dia deve ser de uma reflexão profunda e um pedido de desculpas à Natureza, por a delapidarmos.
Joaquim Armindo