No passado sábado, dia 24 de outubro, pelas 17h, decorreu na Biblioteca Municipal Doutor José Vieira de Carvalho uma conferência promovida pelo Clube UNESCO da Maia (CUMA) e proferida por
Daniela Alves e Hélder Barbosa. A temática desta conferência centrou-se nas migrações para o Brasil iniciadas no século XVIII e no papel que os endinheirados “brasileiros” de torna-viagem tiveram
na construção do património que ainda hoje modela a paisagem maiata.
Como é sabido, o concelho da Maia foi, em tempos remotos, um território de feição rural e agrícola, desenhado por extensos campos verdejantes cultivados de milho e trigo, geralmente integrados
em grandes propriedades senhoriais ou abastadas casas de lavoura. De uma forma geral, o quotidiano maiato girava em torno do amanho das terras e da criação de gado, conferindo a esta população
laboriosa a sua subsistência.
Todavia, nem todos os maiatos viam na lavoura o seu modo de vida. Uma fatia considerável da população maiata oitocentista aventurou-se a cruzar o Atlântico rumo ao Brasil, outrora visto como uma terra de
oportunidades. Neste contexto de mobilidade e de um certo drama, vários foram os portugueses que granjearam a almejada fortuna, alguns deles regressando à sua pátria já “metamorfoseados” pela longa
estada em terras brasileiras, o que lhes valeu a designação de “brasileiros” de torna-viagem, personagens tão satirizadas por Camilo Castelo Branco. Além dos grandes centros do país, várias outras
áreas rurais e periféricas receberam estes “brasileiros”, em alguns casos filhos da própria terra, regressando a essas localidades com o intuito de se afirmarem socialmente.
O concelho da Maia foi um desses exemplos, tendo acolhido sobretudo no século XIX uma série de “brasileiros” que aqui ergueram grandes palacetes, investindo no aprimoramento das suas freguesias e
em ações de beneficência para com os seus conterrâneos. O lastro destas ações é, ainda hoje, evocado pelo património “brasileiro” que se encontra disperso um pouco por todo o município, sendo
representativo de um período que marcou a própria identidade maiata.
A mesa da conferência contou com a presença do Doutor Raúl da Cunha e Silva (Presidente do Clube UNESCO da Maia), do Engenheiro António da Silva Tiago (Vice-Presidente da Câmara Municipal da Maia),
do Dr. Paulo Ramalho (Vereador da Câmara Municipal da Maia), e do Doutor Jorge Ricardo Pinto (docente do Instituto Superior de Ciências Empresariais e do Turismo). Estiveram presentes vários associados
e não associados do Clube UNESCO da Maia, numa conferência que culminou com as palavras de encerramento por parte do Doutor Raúl da Cunha e Silva e com um Porto de Honra.
Daniela Alves e Hélder Barbosa