No dia 27 de novembro o Clube UNESCO da Maia fez uma conferência sobre a superstição no pequeno auditório do Fórum da Maia.
Se nos ativermos à etimologia da palavra superstição, recordaremos que, segundo Cícero, entre muitos outros autores latinos, superstição (super sto) é estar acima
de, ou seja, ser sobrevivente.
Superstições são, por definição, práticas ou teorias não fundamentadas cientificamente, mas com valor tradicional relacionadas com o pensamento mágico ou com outros valores.
Pode ser considerada a superstição como fruto de práticas complexas e antiquíssimas, caracterizadas por desejos recalcados, transmitidos pelo subconsciente, de
geração em geração, com predominância das classes populares. São crenças que não podem ser testadas de forma racional ou empírica. Estão geralmente associadas à convicção
de que alguma força sobrenatural, religiosa ou não, agiu para promover a suposta causalidade.
Supersticiosos eram pois os que diziam orações, faziam sacrifícios para que os deuses lhes conservassem a vida (ut supersistes essent).
Os romanos era muito supersticiosos, ou seja, a superstição e a religião estiveram sempre muito próximas, quer no culto familiar, ou seja nos Lares, quer na religião
oficial em que, por exemplo, os generais não iniciavam combates militares sem determinadas posturas dos galináceos que supersticiosamente os acompanhavam.
Acreditavam que certas acções (voluntárias ou não) tais como rezas, curas, conjuros, feitiços, maldições ou outros rituais, podiam influenciar de maneira transcendental a sua vida.
Os egípcios eram os mais religiosos e os mais supersticiosos dos homens” com forte vínculo da religião com a magia, (as sete pragas dos magos da Bíblia demonstram que
muitas das cerimónias religiosas dos egípcios tinham por origem práticas carregadas de superstição): praticas magicas, amuletos, imagens, dias favoráveis e desfavoráveis
(fasti e nefasti dos latinos), horóscopo, etc.
Em todos os tempos as religiões monoteístas combateram as superstições.
Bíblia e Cristianismo
a) Levítico.XIX,26.31): ”Não praticareis a adivinhação nem a magia, não fareis tatuagens na pele. Não vos volteis para os espíritos dos mortos, nem consulteis os adivinhos
(pessoas que conhecem o passado, o presente e o futuro, através de vários rituais). Não vos contamineis com isso. Deus é que sabe o futuro e não os feiticeiros.
Carta de S.Paulo aos Gálatas 5:19-21 “As obras da carne são manifestas, a prostituição, a impureza, a lascívia, a idolatria, a feitiçaria, as inimizades, as contendas,
os ciúmes, as iras, as facções, as dissensões, os partidos, as invejas, as bebedeiras, as orgias, e coisas semelhantes, contra as quais vos previno, como já antes vos preveni,
que os que tais coisas praticam não herdarão o reino Deus.”
Marcas da superstição
Magia
Bruxaria
Feitiçaria
Presságios
Enguiços – Antiga crença pagã baseada na adoração de uma deusa tríplice e de um deus cornudo da antiguidade.
Íncubo (deita-se por cima- Diabo. Pesadelos)
Súcubos (deita-se por baixo. Diabo. Maus sonhos)
Votos malignos
Sacrifícios de um galo
Áugures e Arúspices (Roma)
Votos malignos
Leitura da sina
Sonhos
E muitos outros que a seu tempo serão analisados
Segundo o associado padre Joaquim um dos aspectos mais significativos das superstições assenta na insuperável fraqueza humana, onde cabe o medo e a procura de sua superação.
E aquilo que acontece é, muitas vezes, lido em termos de sorte e de azar. E, porque a sorte ou o azar não está nas mãos do homem controlar com facilidade, fala-se em destino.
O homem enfrenta forças que o superam e procura ajuda em meios que considera úteis e eficazes. Este enfrentar o presente e, sobretudo, o futuro, depende da mentalidade pessoal,
muito condicionada pelo ambiente que se respira.
Podemos distinguir três tipos de mentalidade: a mentalidade mágica; a mentalidade científica; e a mentalidade religiosa.
A mentalidade mágica é, quase sempre, o último recurso. Daí se conclui que o «povo ignorante» se socorre da superstição para enfrentar os seus problemas ou dificuldades.
A associada Manuela Baptista recolheu do Almanaque de Lembranças de Maria Peregrina de Sousa numerosas tradições e superstições desta região. Esta recolha está publicada em
diversas obras da autoria. da Peregrina de Sousa.
Para esta intervenção seleccionou as superstições que visam curar maleitas, ou determinar as suas causas, dentre as que foram publicadas no Almanach de Lembranças,
posteriormente chamado Almanach de Lembranças Luso-Brasileiro.
Raul da Cunha e Silva