Realizou-se, no passado dia 19 de novembro, o Seminário «O Centenário da Fundação da Junta Patriótica do Norte». A iniciativa, promovida pelo
Clube UNESCO da Maia em parceria com o Núcleo da Maia da Liga dos Combatentes, teve lugar na Fundação Gramaxo, que integra uma propriedade
seiscentista situada em pleno centro da cidade da Maia. O Seminário contou com a presença de mais de 50 pessoas, entre associados do Clube UNESCO da Maia,
membros da Liga dos Combatentes, representantes da Câmara Municipal da Maia e público em geral.
A sessão, que contou com a moderação do Professor Doutor Jorge Ricardo Pinto, foi aberta, às 15h, pela Dra. Lourdes Graça, da Direção do
Clube UNESCO da Maia. Seguiu-se a intervenção da Presidente da Fundação Gramaxo, Maria de Fátima Gramaxo. O primeiro painel culminou com a
comunicação do Tenente-Coronel Manuel Engrácia Antunes, Presidente do Núcleo da Maia da Liga dos Combatentes, que retratou o papel e as ações
da Liga dos Combatentes em pleno século XXI.
No segundo painel de comunicações procurou-se dar a conhecer o contexto da génese da Junta Patriótica do Norte, as suas ações e objetivos,
o consequente surgimento da Casa dos Filhos dos Soldados e o papel da mulher naquela época. A abertura deste painel contou com a intervenção
da Mestre Liliana Aguiar que se debruçou sobre o tema «Da propaganda à assistência: a Junta Patriótica do Norte no contexto sócio-político da época».
A Junta Patriótica do Norte surgiu, em 1916, no contexto da I Guerra Mundial (1914-1918). Um dos seus propósitos maiores centrava-se na propaganda
patriótica, através da qual tentava cultivar entre os portugueses um sentimento de pertença à sua pátria e de esperança em tempo de guerra,
incentivando à colaboração ativa com os aliados na campanha em prol do direito das nações.
Todavia, as ações da Junta Patriótica do Norte não se resumiam exclusivamente à propaganda. A assistência e os socorros foram também áreas
críticas que mereceram a atenção e um grande investimento por parte da Junta Patriótica do Norte. Foi dessa preocupação, bem patente nos seus
estatutos, que, em 25 de junho de 1917, se fundou, na Rua de Cedofeita (Porto), a Casa dos Filhos dos Soldados. O acolhimento e a educação
técnica e moral dos filhos dos soldados em campanha assumia-se um dos principais objetivos da instituição. Sobre a Casa dos Filhos dos Soldados,
os Mestres Daniela Alves e Hélder Barbosa procuraram, através da sua intervenção – «Contributos para a História da Casa dos Filhos dos Soldados» -,
dar a conhecer a história da instituição através da própria história dos edifícios por ela ocupados. Passados cerca de 17 anos, a Junta Patriótica
do Norte decide, no dia 20 de julho de 1934, adquirir a Quinta Amarela sita na Rua de Oliveira Monteiro (Porto), com o intuito de aí instalar a
sua própria sede e a sua Casa dos Filhos dos Soldados. O período que se seguiu revelou-se deveras difícil. O avultado investimento na compra da
propriedade e nas obras de beneficiação, aliadas a uma diminuição das receitas e aumento das despesas, acabaram por esgotar os recursos da Junta,
que se viu obrigada a dissolver a sua atividade e a legar, em 1938, a Casa dos Filhos dos Soldados à Liga dos Combatentes.
O segundo painel foi encerrado com uma comunicação sobre «As mulheres entre a guerra e a paz (1914-1920)», proferida pela Doutora Adília Fernandes,
com o intuito de dar a conhecer o papel da mulher no contexto social e familiar da época, evocando a sua mudança de comportamentos, a sua emancipação
e conquista de direitos que, até então, se restringiam ao sexo masculino.
O terceiro e último painel foi dedicado a testemunhos baseados em vivências e em memórias daqueles a quem a I Guerra Mundial se refletiu na sua
própria história de vida e/ou familiar. O primeiro testemunho debruçou-se sobre «A Primeira Guerra Mundial na vida de um operário maiato, em França».
O Dr. Miguel Padrão deu a conhecer a história de vida do carpinteiro maiato José Gonçalves de Oliveira (nascido em 1879, na freguesia de Moreira),
seu bisavô, que, em 1917, partiu para França para trabalhar numa serração. O último testemunho foi dado pela Engenheira Laura Mora, sobrinha de uma
responsável pelo economato da Casa dos Filhos dos Soldados da Quinta Amarela.
No final da sessão, o Dr. Paulo Ramalho, Vereador da Câmara Municipal da Maia, teceu elogios ao trabalho que tem sido desenvolvido pelo
Clube UNESCO da Maia e pela forma como as diversas instituições e associações intervenientes se articularam, em rede, para assinalarem o Centenário
da Fundação da Junta Patriótica do Norte. O Dr. Paulo Ramalho fez também questão de assinalar o longo período de paz que tem imperado na Europa,
apesar das constantes ameaças terroristas e da incerteza de que se reveste o futuro. Nesta linha de pensamento, o Presidente do Clube UNESCO da Maia,
rofessor Doutor Raul da Cunha e Silva, encerrou a sessão citando a célebre frase que está na base do ato constitutivo, em 1945, da UNESCO
(Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura): “se a guerra nasce na mente dos homens, é na mente dos homens que devem
ser construídas as defesas da paz”. Neste contexto, sublinhou-se a importância da educação e da cultura para a manutenção da paz mundial.
Daniela Alves e Hélder Barbosa
Fotografias: Fernando Gramaxo