Eram dez horas do sábado, 20 do corrente mês de outubro, quando, no auditório da Escola Secundária da Maia, começaram os trabalhos sob o tema GEA /TERRA- MÃE e os objectivos do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. A iniciativa partiu da CUMA. (Clube Unesco da Maia).
A mesa constituída pelo Presidente do Clube Prof. Dr. Raul da Cunha e Silva e Artur Sá da U.T.A.D
O. primeiro orador da manhã dissertou sobre o assunto de forma esclarecedora e inteligível. Seguiram-se outros oradores que, da mesma forma, atacaram o” status” tendo como palavra de ordem salvar o planeta do abismo para onde estamos a caminhar; a necessidade de transmitir esta preocupação aos vindouros bem como acções que corrijam os atropelos
Gea-Terra Mãe foi o tema do seguinte orador. Afirmou que é um projecto educativo cujos objetivos são o desenvolvimento sustentável do planeta Terra.
A Terra tem uma importância transcendental. Os mitos genesíacos consideram-na como a fonte da vida, seja no mar, seja na terra, no fogo ou, incluindo todos os 4 elementos de Empédocles, no ar.
As relações sistémicas entre estes elementos trouxeram ao longo de milhares de milhões de anos (quatro mil milhões?) a vida que, sofrendo os vários processos da evolução, chegou triunfante até aos nossos dias. Acontece, porém, que ao longo do tempo as coisas mudaram.
O ambiente, o clima, a atmosfera, a água e os mares têm sofrido profundas alterações que começam a pôr em perigo a vida e a habitabilidade da própria Terra.
Foi para combater tal possibilidade que a ONU em 2015 propôs a” Agenda 2030” que inclui 17 grandes medidas de Erradicação da Pobreza e Desenvolvimento Sustentável centrados no planeta, nas pessoas e no desenvolvimento económico-social e ambiental numa dimensão universal ( Professor Raul)
Sobre o clube Unesco da Maia a professora Ana fez uma síntese cujos pontos essenciais são os seguintes :Clube muito activo com reuniões versando a vida de outros tempos; Conferências / encontros comemorações temáticas .Edição de livros da autoria dos associados.
Seguidamente a Elisabeth Silva (Substituída pelo professor Artur Sá) reconhecendo a importância dos 17 ODS e da suas 169 metas e respectivos indicadores, o Programa GEA-Terra Mãe procura agora ajustar os seus objectivos específicos, visando contribuir para a promoção e implementação dos mesmos É neste enquadramento que módulo irá focar-se nos 17 ODS e sua relação com as Ciências da Terra e o seu impacto para uma sociedade mais desenvolvida, resiliente, esclarecida e participativa.
A Dr.a Maria José Roxo afirma que não é possível negar o efeito que as mudanças no clima verificadas a nível global estão a ter nos ecossistemas e sobra as sociedades Serão alvo de reflexão os seguintes objevos:13-Ação Climática e 15-Proteger a vida terrestre, tendo por base a realidade do nosso país.
O Dr Artur Sá refere-se às alterações climáticas e aos sérios problemas que colocam à biodiversidade e ao ser humano. Estar-se-á numa boa altura para contemplarmos uma mudança de paradigma tendo presente que o passado é a chave do futuro.
A concluir os trabalhos do primeiro dia dissertaram ainda o doutor Carlos Meireles e Artur Sá.
Ambos dirigiram os trabalhos de campo do dia 21, como veremos na segunda parte deste resumo.
O progresso tecnológico da humanidade sempre dependeu da exploração dos recursos geológicos do planeta. Os conhecimentos geológicos são aplicados em diversas áreas como, por exemplo, na exploração dos minérios e produtos energéticos.
A ciência virada para a natureza, a cartografia geológica, a sua importância na economia, são investimentos de grande alcance.
A importância dos geoparques, com a proclamação internacional de Geociências e Geoparques da Unesco em novembro de 2015 foi reforçado o trabalho conjunto com o Programa Internacional de Geociências.
Tem contribuído em colaboração com outras instâncias para em ambiente de educação formal e informal aumentar os conhecimentos no domínio das Geociências contribuindo para a sua relevância de “geociências ao serviço da Sociedade”.
Conclusões e propostas
1º O clube Unesco da Maia-Cuma tem como objectivos os ideais da Unesco, ou seja, a Ciência, a Educação, a Cultura e a Comunicação.
Neste sentido, é racional a promoção da actual acção formativa Gea-Terra Mãe cujos objectivos são o desenvolvimento sustentável do planeta Terra.
2 A Terra tem uma longa história de 4000 milhões de anos, durante os quais sofreu alterações substanciais e profundas que importa conhecer.
É que sem o passado não há futuro.
3 As alterações climáticas que ocorreram recentemente fazem parte da história da Terra cujo passado está escrito nas rochas.
4 Ao referir as rochas, assume importância relevante a Geologia que deve estar ao serviço da sociedade.
5 As Geociências, as Cartas geológicas são importantes para o futuro do mundo e devem estar ao serviço da Vida e da Terra.
Proposta: Reduplicação de acções de formação em ambiente de educação formal e informal nas escolas, clubes, municípios. É urgente conhecer as ameaças à vida e à saúde da terra e combatê-las. Raul da Cunha e Silva.
Trabalho de campo.Dia 21
Esta ação de formação realizada pela CUMA teve o apoio da Câmara Municipal da Maia, do
Centro de Formação de Professores Maia- Trofa, da Comissão Nacional da UNESCO, do Comité Nacional para o Programa Internacional de Geociências (PIGC-UNESCO), do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG) e da Escola Secundária da Maia.
Com esta ação, vocacionada fundamentalmente para os professores do ensino secundário e do básico (3º ciclo) das escolas da Maia e concelhos limítrofes, e aberta a todos os sócios da CUMA, pretendia-se: 1) a divulgação do concurso escolar GEA-TERRA MÃE nas escolas da Maia. Este concurso escolar é da iniciativa do Comité Nacional para o Programa Internacional de Geociências da Comissão Nacional da UNESCO; 2) contribuir para a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, das Nações Unidas, com enfase no ponto 4 “Educação de Qualidade”, com particular destaque para o ensino das Ciências da Terra e da geodiversidade; 3) contribuir para a formação científica dos professores e atualização dos seus conhecimentos no âmbito das Ciências da Terra.
Enquanto no 1ª dia (20 de Outubro), foi dedicado a palestras (ver programa), no 2ª dia (21 de Outubro) fez-se uma aula prática de Geologia de Campo dedicada ao tema “O Paleozóico dos setores de Valongo e da Serra de Rates”. Esta aula de campo foi orientada pelo Prof. Artur Sá (UTAD; PIGC-UNESCO) e pelo Doutor Carlos Meireles (LNEG; PIGC-UNESCO; CUMA). Foi produzido um guia desta excursão para complemento da informação e da formação (edição: Carlos Meireles e Ana Almeida, CUMA)
A Geologia conta a História da Terra, desde a sua formação, há mais de 4600 mil milhões de anos até ao tempo presente. A escala do tempo geológico, isto é, as linhas de tempo que os geólogos usam e que se baseiam nos grandes eventos geológicos que marcam a história do nosso planeta, é subdividida em várias unidades de tempo (Éon, a maior unidade de tempo, mil milhões de anos, que se subdivide em Eras; as Eras em Períodos; estes em Épocas e por sua vez, as Épocas em Idades). Para o geólogo realizar tal empreitada (reconstituição desta história do planeta), baseia-se nos estudos que faz sobre as rochas e sobre os fósseis que, por vezes, estas contêm, ou na falta destes, fazendo uso dos meios analíticos que quantificam os processos físicos do decaimento radioactivo dos elementos químicos, constituintes de certos minerais .
Nesta saída de campo foram visitadas rochas do Paleozóico (Era que se estende desde cerca dos 542 Ma até aos 252 Ma) que ocorrem em Valongo e na Serra de Rates.
Em Valongo, recuamos no tempo até às antigas praias e sedimentos marinhos depositados entre os 477-470 Ma (milhões de anos) nas plataformas costeiras de um dos grandes continentes que terão
existido nesses tempos, designado, pelos geólogos, de Gondwana. Foi possível observar, gravados nas rochas, os vestígios da presença de seres vivos marinhos, os icnofósseis (do grego ichnós, marca, traço, pista), desde as marcas de locomoção das trilobites (longínquos antepassados do atual bicho de conta), as Cruziana, aos vários tipos de marcas deixadas pelos Vermes que viviam nessas águas (Daedalus, Skolithos). Demos depois um salto no tempo geológico (para os 445-443 Ma), embora atualmente à distância de escassos quilómetros, para observar vestígios da glaciação que afetou o continente Gondwana, que ocupava nesses tempos o Pólo Sul, como hoje está a Antártida. Depois, um salto ainda maior no tempo, para o Período Carbónico, neste caso em rochas com idades entre os 307 – 300 Ma, onde já havia vida no continente, como atestam os inúmeros fósseis de plantas (diferentes tipos de fetos, as primeiras árvores).
Depois de recuperar energias, no parque de merendas do Santuário de Santa Eufémia, com um farto farnel repleto de iguarias e viandas primorosamente preparado pela Ana Almeida, lá seguimos, abençoados pela Santa, para outras paragens.
Na Serra de Rates, relevo gerado pelas forças custais da Terra e moldado pela ação erosiva dos agentes da sua dinâmica externa, particularmente a água, que inexoravelmente e pacientemente vão moldando a morfologia da superfície do planeta, foi-nos dado a constatar como as forças tectónicas do nosso planeta podem tornar mais complexa a geologia ao “baralharem” a normal sequência estratigráfica (do latim stratum, camada, e do grego graphia), colocando em contacto rochas do Carbónico (aproximadamente à 300 Ma), com rochas do Devónico Inferior (419-393 Ma), e destas, com rochas do Ordovícico Médio (470-460 Ma). Mais uma vez se observaram fósseis de animais marinhos destes Períodos (conchas, equinodermes primitivos, “antepassados” afastados dos ouriços-do-mar). Foi possível constatar, in loco, que a investigação geológica nunca termina, há sempre coisas novas a descobrir, pois só assim, a Ciência e o conhecimento avançam.
A visita terminou no Monte de S. Féliz de Laúndos, no mesmo tipo de rochas onde tínhamos começado, em Valongo, a mais de 30 km de distância: nos antigos sedimentos de 477 Ma, depositados na plataforma marinha do Gondwana.
A paisagem atual, que se vislumbra do Monte de S. Félix de Laúndos, com uma extensa planície costeira que, da arriba orográfica da Serra de Rates se espraia até ao mar, com vestígios de antigas praias, é testemunho do último recuo do mar e/ou do soerguimento tectónico da serra, já no Período Quaternário, assim designado o tempo geológico presente, em que vivemos.
Raul da Cunha e Silva