Nos dias 11 e 12 de dezembro, o Clube UNESCO da Maia (CUMA) marcou presença no 3.º Encontro Nacional de Centros e Clubes UNESCO, realizado em Lisboa, no Palácio das
Necessidades (Ministério dos Negócios Estrangeiros).
A sessão de abertura do encontro teve início às 15h30 do dia 11 de dezembro, pelo Presidente Substituto da Comissão Nacional da UNESCO (CNU), Dr. Jorge Lobo de Mesquita.
Seguiram-se várias comunicações por parte da equipa da Comissão Nacional da UNESCO que versaram vários aspetos ligados não só à história da UNESCO no Mundo e em Portugal,
mas também a temas relacionados com o património mundial, o património imaterial, as reservas da biosfera e geoparques.
O primeiro dia do encontro culminou com a apresentação de alguns Clubes e Centros UNESCO, os quais deram conta dos seus objetivos, resultados alcançados, e projetos futuros.
A sessão de dia 12 de dezembro teve início às 10h00, ficando destinada a parte da manhã à apresentação dos restantes Centros e Clubes UNESCO.
O Clube UNESCO da Maia foi o primeiro a intervir, representado por Daniela Alves e Hélder Barbosa.
Foi destacado, ao longo da comunicação, o histórico de cinco anos de atividades e iniciativas em prole da dinamização e divulgação cultural do concelho da Maia.
Sublinhou-se ainda as cinco obras publicadas pelo Clube UNESCO da Maia até à data – Moinhos do Leça (2011); Moinhos da Maia no Leça e noutras linhas de água (2013);
Memórias de Tempos Idos, vol. 1 (2014), vol. 2 (2014) e vol. 3 e 4 (2015) – enquanto fontes decisivas para o estudo e compreensão do património maiato.
A transcrição e publicação das Memórias de Tempos Idos, da autoria do Padre Joaquim Antunes de Azevedo, mereceu particular enfâse em virtude da recuperação e
perpetuação de uma obra – e suas memórias – que se julgava perdida.
Posteriormente foi exibida uma curta apresentação que sintetizou algumas das atividades, iniciativas e projetos futuros que o Clube UNESCO da Maia pretende levar a cabo.
Daniela Alves e Helder Barbosa
17-10-2015 – Apresentação do 3º volume “Memórias de tempos idos”
de Joaquim Antunes de Azevedo, em Vilar do Pinheiro
Labor omnia vincit improbus – Virgílio, Geórgicas ( O trabalho vence todas as dificuldades)
Memórias de tempos idos , de Joaquim Antunes de Azevedo, natural de Vilar do Pinheiro, foi tornado público, na totalidade, em Julho de 2015.
Foi objetivo do Clube UNESCO apresentar a obra na terra natal do autor, Vilar de Pinheiro, propósito acarinhado pelo executivo da junta de freguesia e pelo pároco da freguesia.
Assim, no dia 17 de outubro concretizámos o nosso desejo.
Visitámos em primeiro lugar o mausoléu, onde jaz o autor, cuidadosamente arranjado pelo executivo da junta de freguesia e, no local, a sobrinha bisneta, Drª Conceição Antunes de Azevedo,
referiu-se a esse seu antepassado, nestes termos:
O Padre Joaquim Antunes de Azevedo, natural de Vilar do Pinheiro, faleceu na Lameira e foi sepultado aqui em Vilar do Pinheiro, tendo os seus irmãos mandado construir este jazigo para perpetuarem a sua memória.
Cento e vinte e seis anos depois, o Clube UNESCO da Maia ao concluir a publicação dos seus manuscritos contribuiu para que as memórias do Padre Joaquim estejam disponíveis a todos.
A Junta de Freguesia de Vilar do Pinheiro dinamizou, juntamente com a Paróquia, esta sessão, que não só dá a conhecer esta obra, desconhecida da maior parte das pessoas, mas também homenageia um filho da terra
que tanta preocupação teve em não deixar morrer o passado.
A apresentação da obra fez-se no interior da Igreja Matriz. O senhor Padre José Domingues referiu-se ao manuscrito como um grande tesouro literário e histórico não conhecido pela maioria do
público, escrito por este ilustre sacerdote de Vilar de Pinheiro que nasceu nesta freguesia e nela jaz no cemitério local (…) ficámos mais ricos pelo legado cultural que o Padre Joaquim Antunes de Azevedo nos quis
transmitir e que o Clube UNESCO da Maia, em boa hora, publicou.
Lourdes Graça, coordenadora do projeto, referiu à diversidade dos temas tratados, um património de interesse incalculável, agora partilhado.
Diz ter coordenado a edição com muita motivação e que sentiu o mesmo em todos quantos tornaram possível este projeto. Referiu-se aos descendentes do autor, nos quais sentiu muito apoio e colaboração.
Miguel Pereira, Presidente da Junta, depois de cumprimentar todos os presentes afirmou:
Hoje, aqui e agora faz-se uma justa e já tardia homenagem ao Padre Joaquim Antunes Azevedo. Esta homenagem não acontece por acaso. Acontece porque em primeiro lugar o Clube Unesco da Maia
teve a ousadia e a capacidade de colocar os manuscritos do Padre Joaquim Antunes Azevedo numa obra de três volumes de seu nome “Memórias de tempos idos”, que é aqui hoje na terra natal do Padre
Joaquim Antunes Azevedo apresentada e, em segundo lugar, houve a conjugação de três vontades: a do Clube Unesco da Maia, a da Junta de Freguesia e a vontade da paróquia. Também aqui hoje se faz
história perpetuando através da obra um dos nomes maiores desta freguesia. Faz-se história na igreja da terra que viu nascer este homem.
Existem duas ruas com o seu nome. Rua Padre Joaquim Antunes Azevedo e a Travessa Padre Joaquim Antunes Azevedo que se juntam no entroncamento da Casa de São Gemil, casa onde nasceu. Para a
história ficou o homem que nos seus manuscritos registou as tradições, os costumes, as famílias, as estruturas das propriedades, formas sucessórias, organização das casas e alianças familiares
nas freguesias maiatas e vilacondenses do século XIX como escreveu o Prof. Doutor Jorge Fernandes Alves no prefácio do Volume I.
A todos mais uma vez deixo uma palavra de agradecimento pela forma expressiva que aderiram a esta apresentação e homenagem a uma figura singular desta terra.
A cultura hoje está de parabéns.
O Professor Jorge Alves, que acompanhou o projeto, disse:
A obra do Pe. Joaquim Antunes de Azevedo (1828-1889), agora transcrita e editada pelo Centro Unesco da Maia, constitui um contributo referencial para a cultura maiata, na medida em que
as suas “memórias” nos revelam mais do que anotações históricas, constituem um repositório de descrições sobre as estruturas sociais, dando-nos referências sobre a propriedade e formas sucessórias,
a organização das casas e alianças familiares, a emigração e o retorno, a economia rural e artesanal. Correndo os seus manuscritos durante muito tempo sob a forma de fotocópias, a edição torna o
seu conteúdo acessível a todos, tornando-o um elemento de estudo, em particular para o meio escolar e académico, ao mesmo tempo que presta homenagem ao labor silencioso desse clérigo maiato
oitocentista, até aqui silenciado, salvo algumas referências dispersas. Dar voz ao Pe. Joaquim Antunes de Azevedo e facilitar aos maiatos e ao público em geral o contato com a sua obra: eis
uma tarefa árdua e com riscos económicos que só o voluntarismo, a capacidade e a paciência dos responsáveis pelo Centro Unesco da Maia permitiu executar, merecendo por isso o nosso respeito e admiração.
Em representação da Camara Municipal de Vila do Conde, A Vereadora da Educação, Drª Lurdes Alves, referiu-que a visita ao mausoléu do Padre Joaquim Antunes de Azevedo permitiu a descoberta do
lugar onde repousam os restos mortais deste ilustre do século XIX a quem devemos o perpetuar das terras, suas gentes e costumes que gravitavam no universo em que viveu. Os três volumes da obra
foram, devidamente, reunidos e editados pelo Clube UNESCO da Maia, com a colaboração erudita de um generoso conjunto de estudiosos.
O Pároco de Vilar do Pinheiro, Padre José Domingues Moreira, acolheu na Igreja Matriz de Vilar do Pinheiro a apresentação das “Memórias de Tempos Idos”. Desde as alocuções dos profundos
conhecedores da obra até à leitura de expressivos trechos escolhidos e ao enriquecimento pelo grupo coral, viveu-se um evento de relevo na freguesia.
Esta homenagem ao Padre Joaquim Antunes de Azevedo, através da edição dos seus manuscritos, pode ser ampliada pela leitura de todos os que a adquiram.
O Clube UNESCO da Maia prestou mais um serviço à cultura da nossa terra e do país.
A concluir a sessão o presidente do clube, Raul da Cunha e Silva, afirmou:
Assistimos a um evento a todos os títulos notável por mérito daqueles que o planificaram e executaram, ou seja pelo clube Unesco da Maia, paróquia de Vilar do Pinheiro e junta da mesma freguesia.
Achou por bem esclarecer alguns que a UNESCO em 1942 as potências vencedoras afirmaram: “Se é no espirito dos homens que nascem as guerras é também nele que devem se combatidas através da educação, ciência e ensino”.
Em 16 de novembro de 1945 constituiu-se a Unesco, acrónimo de Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, e como consequência a Paz.
Os países signatários do Ato Constitutivo têm uma Comissão Nacional da Unesco, sediada em Portugal no Ministério dos Negócios Estrangeiro.
Mediante certas condições a CNU aceita fazer protocolos com organizações que dão origem a centros e clubes Unesco cujo dever é informar, formar e agir.
Lourdes Graça
12-07-2015 – Apresentação do 3º volume “Memórias de tempos idos”
de Joaquim Antunes de Azevedo
Labor omnia vincit improbus – Virgílio, Geórgicas ( O trabalho vence todas as dificuldades)
No dia 12 de Julho disponibilizou-se ao público o Manuscrito do século XIX, Memórias de tempos idos, de Joaquim Antunes de Azevedo, natural de Vilar do Pinheiro, escrito na freguesia de
Vila Nova da Telha, entre 1828 e 1889.
Com a publicação do III volume concluímos a transliteração das memórias que o Padre Joaquim Antunes de Azevedo escreveu para dar a conhecer a quem as ler os costumes e usos da Maia.
Os objetivos de escritas do autor eram legar memória escrita, de factos do seu tempo, às gerações vindouras, antes que tudo se perdesse.
Os objetivos do Clube Unesco da Maia perspetivaram homenagear o autor; cumprir um dever de cidadania, ao divulgar uma fonte de investigação importantíssima e ainda “Imprimir um impulso
vigoroso à educação popular e à difusão da cultura”. – Um dos objetivos da UNESCO.
Contexto
O Concelho da Maia de então possuía uma área mais extensa que a de hoje. A Maia rural tinha fortes interesses na terra e no mar; a agricultura era a principal fonte de riqueza. Uma sociedade
tipicamente rural, com forte desequilíbrio social, dominada pelos detentores de terras, os Lavradores da Maia; politicamente, as lutas liberais que as Terras da Maia conheceram muito bem;
forte insegurança, motivada pela falta de recursos e instabilidade política. É neste contexto que o autor escreve as suas memórias.
O autor e a obra
O autor usa um discurso linear, previsível, característica que manteve ao longo de todo o documento. Muitas das narrativas resultam da observação direta dos factos. Os relatos de situações
do quotidiano são recorrentes. Raramente opina sobre factos, certamente por prudência, daí sabermos muito pouco sobre o autor. Ficamos, contudo, com a certeza de que a mensagem bíblica:
Unaquaeque enim arbor de fructu suo cognoscitur. Pelos seus frutos conheceis a árvore. (S. Lucas, 6.44.) se aplica, na plenitude, a Joaquim Antunes de Azevedo e à sua obra.
Temas
No Manuscrito encontramos temas variados: as lutas liberais e o desembarque de D. Pedro, em Pampelido; a estrutura sócio económica; os mosteiros e centros de culto; os vestígios arqueológicos,
curiosidades (registos de usos e costumes hoje desaparecidos).
. O desembarque de D. Pedro em terras da Maia
O autor fala do desembarque de D. Pedro à frente do exército libertador. Refira-se, como memória da sua passagem por Moreira, o episódio dos três ‘efes’, passado entre D. Pedro e o dono da
locanda (venda), quando o locandeiro diz que a comida eram fanecas de três ‘efes’.
“Então o que é peixe de três efes”?
“É faneca, fresca, frita”.
O Sr. D. Pedro comeu e depois disse ao locandeiro:
“Não tenho aqui dinheiro para lhe pagar e então fica sendo o peixe de 4 ‘efes’: faneca, fresca, frita, fiada”.
. Os Lavradores
As casas de lavoura com características únicas, na volumetria, no tipo de arco de entrada, nas janelas em guilhotina, emolduradas de granito, e em muitos outros aspetos. O Manuscrito faz
referências diversas a estas casas sobre a construção e reconstrução, pela mão do brasileiro que voltou rico, ou pela do Lavrador. Um documento de excelência para se estudarem estes imóveis.
Têm as casas tido uma progressiva melhoria, como se vê das antigas e modernas, que, confrontadas estas com aquelas, pareciam as modernas uns palácios.
Estabelecemos relação entre estas reconstruções e a venda de gado para Inglaterra e ainda o dinheiro dos brasileiros de torna viagem.
Os casamentos ‘apalavrados’. A preocupação em não retalhar as Casas levava a que os casamentos fossem uma espécie de contrato entre os pais dos nubentes. O autor nomeia a Casa de onde saem
os nubentes e a Casa para onde vão casar. Na verdade, estes registos referem apenas os filhos das Casas de nome, pois os de menores posses casariam na terra onde nasceram, sem necessidade
de outras intervenções.
Monumentos e vestígios arqueológicos. Joaquim Antunes de Azevedo assinala alguns os vestígios arqueológicos que conhece. Castro do Boi, O convento de Vermoim, Aras, altares, pias…
Curiosidades:
O “piopardo”, brincadeira destinada a iniciar os novatos no mundo adulto. O engano que os rapazes e homens mais velhos faziam aos novatos era caçar o piopardo. O novato, abandonado na mata,
chamava: “ pio-pardo, anda ao saco, piopardo, anda ao saco, que se te apanho faltam três para quatro!”
Os ladrões das estradas
São frequentes as notícias sobre os ladrões que apareciam nos caminhos, ditos ‘ladrões das estradas’. As casas eram construídas com fortes proteções e esconderijos de ataque e defesa.
Os pobres
O autor não teve como preocupação fazer registos das camadas sociais mais baixas. Apenas alguns apontamentos como este, dos que ofereciam as suas preces, nas cerimónias religiosas, a favor
dos que podiam pagar 20 réis por ouvir missa de defuntos, ou assistir a um funeral, por 40 réis ou ainda levar o caixão à igreja por 480 réis.
Conclusão
A publicação deste documento é um marco decisivo para a investigação sobre aspetos relevantes da História Contemporânea.
Atendendo à amplitude e grandeza da sua obra: Memórias de tempos idos, a níveis diversos. Este documento que agora o Clube UNESCO da Maia torna público, contribui para melhor se estudar um
período da História Contemporânea, não apenas da Maia.
Na apresentação da obra, a cargo do professor doutor Jorge Fernandes Alves, esclareceu o alto valor desta obra, enaltecendo o contributo que o Clube UNESCO da Maia tem prestado à cultura da Maia.
Por sua vez, o Presidente do Clube enalteceu os valores do Património imaterial, a biodiversidade e a tradição definidos na 32 Convenção, no ano 2003.
Lourdes Graça