No passado dia 26 de outubro de 2019, decorreu mais uma iniciativa da CUMA – Clube UNESCO da Maia.
Encontro realizado no Lar de Nazaré (Maia), a partir das 16 horas, para a conferência intitulada, “Padre António Vieira, escritor e orador exímio da nossa língua”.
Foram oradores, Adalberto Costa e Raul da Cunha e Silva e moderador Carlos Meireles.
O Padre António Vieira é um dos expoentes máximos da cultura e da literatura luso-brasileira. Nascido em Lisboa, no seio de uma família humilde, foi
providencial que seu pai, nomeado escrivão do Santo Ofício em S. Salvador da Baía, levasse consigo para o Brasil toda a família. Aluno do Colégio de Jesuítas
de Salvador da Baía, a educação que aí recebeu foi de suma importância para o seu percurso de vida. Padre missionário da Companhia de Jesus, exímio orador,
falava com grande frontalidade e coragem na defesa dos oprimidos e contra as formas de opressão do seu tempo (Inquisição). Defensor da dignidade dos povos
nativos, lutou contra o tratamento desumano que os colonos infligiam aos índios. Defendeu os judeus e a abolição da distinção entre cristãos novos e cristãos
velhos. Atacou abertamente a Inquisição e por tal foi perseguido. Valeram-lhe os seus contactos com a Santa Sé.
O seu êxito como diplomata ficou patente no sucesso junto das nações europeias, ao apoio à causa da Restauração e do rei D. João IV.
Na segunda parte da conferência foi salientado o 2º período do Classicismo, ou seja, o Barroco, estilo voltado para o jogo de palavras e imagens, para
o preciosismo vocabular e conceptismo.
Foram indicadas algumas figuras da literatura barroca, a importâncias dos conceitos predicáveis na oratória, ferramentas que António Vieira usou com
mestria nos sermões (cerca de 200) e cartas (600). Para ilustrar a arte, a erudição, a propriedade linguística e a genialidade com que trabalhava a língua
portuguesa. foram lidos e comentados passos de quatro sermões de valor muito relevante.
Do sermão do Espírito Santo (1657) repristinámos o Estatuário, provavelmente o trecho mais perfeito da nossa língua: Segundo o orador, assim como de uma
pedra se pode fazer um santo, também de um índio, um bom cristão.
Do Sermão histórico e panegírico nos anos da Rainha D. Maria Francisca de Saboia, (1668) isolámos o passo “A Guerra “cujo realismo descritivo lembra os
tempos hodiernos.
Do Sermão do Bom Ladrão destacamos as conjugações do verbo roubar. Enquanto os que podem conjugam o verbo roubar em todos as pessoas, tempos e modos na
voz ativa, os outros conjugam nos mesmos tempos e modos na passiva. Este sermão foi escrito em1655 e não nos tempos hodiernos
Finalmente, do sermão de Santo António aos Peixes (1654): Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário,
era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos.
A analogia com o mundo dos homens é muito clara.
A leitura dos textos permitiu diálogos muito pertinentes e cheios de interesse
A concluir um Porto D’Honra prolongou o diálogo da conferência.
O Vice-Presidente da CUMA
Carlos Meireles