Os Caminhos de Santiago são percursos que os peregrinos seguem desde a Idade Média, a caminho de Santiago de Compostela. Foi declarado “Primeiro Itinerário Cultural Europeu”, em 1986, pelo Conselho da Europa que, em 2004, lhe atribuiu a denominação de “Grande Itinerário Cultural Europeu”. “Património da Humanidade”, desde 1993.
Na atualidade, é um dos três caminhos mais concorridos, sendo os outros dois, o de Jerusalém e o de Roma.
No dia 6 de Junho, o Clube UNESCO da Maia fez o 2º percurso dos Caminhos de Santiago, em parceria com o Turismo da Maia, na pessoa de Mário Aguiar que, uma vez mais, demonstrou grande profissionalismo.
Moreira (Igreja Conventual de S. Salvador de Moreira da Maia – Karraria Antiqua) – Águas Férreas (Vilar de Pinheiro) – Mosteiró – Padinho – Gião – Vairão (Piquenique no Castro do Boi (lugar do Crasto), visita ao Mosteiro de Vairão Foi o itinerário traçado.
No início da caminhada, algumas referências ao Mosteiro, local de passagem e albergue de peregrinos, e dali, seguimos pelo caminho traçado, tendo a primeira paragem na Botica da Lameira, onde fomos recebidos pela atual proprietária da Botica, descendente do Padre Joaquim Antunes de Azevedo.
Na passagem da Casa de Sangemil, minuciosamente descrita pelo autor de Memórias de tempos idos, fez-se uma leitura da descrição da mesma que integra a obra que iremos publicar em julho: Memórias de tempos idos III, tendo-se salientado a insegurança que se vivia nesse tempo.
É nesta latrina, que fica no topo da varanda, como o quarto da sala nova, onde fica também outra espécie de fortaleza para vigiar a casa, sem ser visto, e dar fogo, sem receio de ser ferido. Não há que admirar estas precauções e tanta segurança numa casa de lavoura como são portas, umas após outras, chapeadas de ferro, grossas grades de ferro nas janelas inferiores, se se atender ao tempo desgraçado em que ela foi construída, em que os ladrões, assaltando as casas dos lavradores da Maia, levavam tudo a ferro e fogo, matando e roubando…
Não muito distante, tivemos ocasião de contemplar um belo exemplar de Casa que poderá ser paradigma das Casas rurais da Maia, pelas estruturas que caracterizam estes imóveis – falámos da Casa do Padre Agostinho de Azevedo, autor de “Terras da Maia ”, sobrinho de Joaquim Antunes de Azevedo.
Depois, o Castro do Boi, onde a associada Adorinda Carvalho referiu a antiguidade do Castro, enumerando outros castros vizinhos, como o da Retorta e Alvarelhos e a razão da sua existência na Maia. Espraiámos a vista e do “Castro Madalena” donde se descobre um largo horizonte, vendo-se o mar, Vila do Conde, Póvoa do Varzim, etc… e contemplámos uma paisagem paradisíaca até ao mar, lá ao fundo.
Após um descanso já merecido, como peregrinos partilhámos a merenda para, logo de seguida, alcançarmos a última etapa desta jornada-Vairão.
E, no fim da rua, inopinadamente, deparámo-nos com um dos mais ricos mosteiros beneditinos do Norte do País – o Mosteiro de Vairão, notável pela sua antiguidade, extensão de terras, elevado número de freiras e sobretudo a importância social e económica que teve na região.
Cite-se o primeiro documento que se refere ao Mosteiro – uma carta de doação, datada de 974, que consta de uma doação da Vila Valeriani e de duas igrejas a Domítria, pelo presbítero Romario e sua irmã.
Da leitura deste documento ficamos a saber que já existia no século X; que foi um convento dúplice; o nome de Vairão deriva de valeriani e não do árabe, como pretendem alguns autores
D. Afonso Henriques deu-lhe Carta de Couto em 1141, no tempo da Abadessa Gelvira Tourei. Nesta carta de couto não se faz referência aos frades, possivelmente já não faziam parte do convento.
Sofreu, como todos os mosteiros, as vicissitudes políticas, particularmente no liberalismo e encerrou, após a morte de Clementina do Santíssimo Coração de Jesus, a 9 de dezembro de 1891.
Era um fator de forte desenvolvimento local, no campo religioso, económico e social, daí o empenhamento das diversas freguesias para que o convento não fosse extinto.
Os Caminhos de Santiago que o Clube pretende dar continuidade perfilham também o reconhecimento e estudo de aspetos culturais, como aconteceu neste percurso, dado os objetivos de um clube como o nosso.
Lourdes Graça