Artigo publicado no Jornal Maia Hoje
	A decisão visa celebrar e defender a diversidade linguística e cultural de todas as línguas que se falam no mundo e não só das
		seis oficiais da ONU (Inglês, Francês, Espanhol, Árabe, Chinês e Russo).
	À sombra de nobres princípios que relevam do multiculturalismo, no âmbito da globalização, deveremos refletir sobre dados que, mesmo
		ignorados, são importantes. Assiste-se atualmente a uma colonização linguística e cultural do mundo pelo Inglês, seus valores e cultura
		que se vão tornando uma ameaça reducionista contra as outras linguagens, culturas e valores. Esta colonização mais não é que uma deriva
		dos processos atuais da globalização em curso cujos problemas todos nós vamos conhecendo.
	Durante os últimos decénios, o Inglês tem sido, cada vez mais, usado na investigação e no ensino superior, mormente nas ciências naturais,
		na medicina e na técnica. É cada vez mais a linguagem da comunicação.
	Tememos que, dentro de uma ou duas gerações, o Inglês venha a ser o idioma predominante em vastas regiões do mundo (incluindo Portugal),
		se não houver defesas das línguas maternas. Desde logo, não podemos imaginar todo o mundo a falar uma só língua, a ter uma só cultura,
		um só sistema social e político. A ignorar, por exemplo, a diversidade cultural.
	Os dados mostram que dos cerca de 6 mil idiomas no mundo, 200 já foram extintos nas últimas três gerações. Índia, Estados Unidos, Brasil,
		Indonésia e México são os países com maior diversidade linguística e com mais possibilidades de idiomas em extinção.
Estima-se que o Português seja a 6ª ou a 7ª entre as línguas com maior número de falantes, cerca de 176 milhões.
O Português ocupa a 7ª posição entre as línguas mais faladas na Internet.
O problema da Língua Portuguesa é semelhante aos das outras línguas.
	Assiste-se a um abastardamento da língua com inglesismo desnecessário que, desde nomes de empresa ou produtos em Inglês, aceitação de
		vocábulos de produtos novos mas para os quais a língua tem recursos. Exemplo “site” em vez de sítio.
	Segundo o último guia interativo “em linha” de línguas sob o risco de extinção, lançado pela Organização das Nações Unidas para Educação,
		Ciência e Cultura, UNESCO, só o Brasil tem 190 idiomas em perigo, muitos em áreas indígenas.
	Daí a necessidade de se defender o multiculturalismo, ou seja, a diversidade das culturas e a diversidade das linguagens. E a diversidade
		da vida, ou seja, a biodiversidade, o pluralismo religioso, político.
De outro modo, poderíamos estar a recriar o “big brother”.
As línguas são parte integrante das culturas.
	Línguas e culturas são exatamente a multiplicidade, a diversidade, a diferença que existe entre as pessoas e principalmente a diferença
		entre as línguas, as palavras, os sons, os ritmos, os tons.
	A língua materna é portadora de um capital cultural que se bebe com o leite materno. Nesse capital cultural entra a socialização, a visão
		do mundo e os valores essenciais.
É elemento constitutivo da identidade pessoal, regional e nacional de um povo.
	O capital cultural individual liga-se à socialização no seio da família e do grupo, à construção da identidade pessoal. O universo simbólico
		assume determinadas características, cauciona comportamentos normativos e sanciona os desviantes.
Por que é importante a língua materna? Por que é importante defendê-la?
A UNESCO sabe e nós também devemos saber.
Raúl da Cunha e Silva
